Sociedade
Presidente da Lusiaves nega plano para desmantelar o património da Avilafões
O relacionamento com a Avilafões era já antigo, desde meados dos anos 90, uma vez que os matadouros do grupo enviavam para lá subprodutos (como penas, vísceras e sangue) para a produção de farinhas.
Considerado um dos grandes empresários de Portugal, Avelino Gaspar foi hoje ouvido no Tribunal de Viseu, onde está a ser julgado por um crime de branqueamento de capitais, num processo que tem também como arguido Mário Pinto (acusado também de insolvência dolosa e abuso de confiança qualificado).
Avelino Gaspar explicou que o grupo Lusiaves tem mais de 30 empresas, que operam em todas as etapas da cadeia de valor do setor avícola, desde a produção do milho até à transformação e valorização de subprodutos, passando pelo abate e comercialização de aves.
O relacionamento com a Avilafões era já antigo, desde meados dos anos 90, uma vez que os matadouros do grupo enviavam para lá subprodutos (como penas, vísceras e sangue) para a produção de farinhas.
Segundo Avelino Gaspar, depois da “crise das vacas loucas” foi preciso “fazer coisas diferentes para ganhar dinheiro” e a Avilafões sentiu dificuldades.
Contou que, meses antes da entrada da Campoaves (empresa do grupo Lusiaves, sediada em Oliveira de Frades) no capital da Avilafões, em 2006, foi abordado por um dos sócios desta empresa, João Silva, que lhe disse que o negócio era rentável, mas estava descapitalizado e sentia dificuldades até para pagar o combustível necessário à circulação das viaturas.
Nesse âmbito, João Silva pediu-lhe para a Lusiaves adiantar o pagamento do combustível, que a Avilafões ia depois pagando com a prestação dos serviços, acrescentou.
O fundador da Lusiaves explicou que, passado “mais um tempo”, João Silva disse que precisava de mais ajuda e perguntou se o grupo não queria entrar no capital da Avilafões.
Apesar das dificuldades financeiras e dos problemas ambientais da Avilafões, como o grupo Lusiaves tem um histórico de sucesso a recuperar empresas (como aconteceu, por exemplo, com a Campoaves), decidiu investir e ficou com 51,76% das ações da empresa situada em Queirã, Vouzela.
Como gerentes, ficaram duas pessoas da confiança de Avelino Gaspar (um engenheiro zootécnico e um economista) e João Silva, mas a situação da Avilafões era pior do que previam.
“O senhor João Silva, desde o primeiro dia, andou sempre a esconder as coisas más e a contar coisas bonitas”, lamentou Avelino Gaspar, acrescentando que, apesar de dois acordos parassociais (o primeiro dos quais representou um suprimento de mais de cinco milhões de euros) não foi possível resolver os problemas.
Segundo Avelino Gaspar, houve “um conjunto de situações que levaram a desconfiar de João Silva” e “criou-se um ambiente insustentável” na administração, pelo que, em Julho de 2009, foi deliberado alienar a quota.
Esta foi vendida à Risa Finance LLC (que, segundo a acusação, é uma offshore sediada nos Estados Unidos da América), por um milhão de euros, tendo Mário Pinto (o outro arguido neste processo) sido nomeado administrador.
Avelino Gaspar admitiu que o cheque depositado na Risa era da sua conta pessoal e que esta empresa foi criada para afastar João Silva, que “nem comprava (a quota), nem deixava fazer coisas” na Avilafões.
“Foi uma estratégia para ver se conseguíamos encontrar uma solução”, frisou, acrescentando que, apesar de pretenderem manter a empresa a funcionar e rentabilizá-la, ficaram “sem condições” para tal após um pedido de insolvência feito por João Silva e Cidália Silva “com base em falsos créditos” e também devido à caducidade da licença ambiental.
Depois de responder às perguntas do coletivo de juízes, da procuradora do Ministério Público e dos advogados, Avelino Gaspar rematou: “só estou aqui por causa de uma história mal contada e de gente que me enganou”.