Economia

Produção de azeite vai quebrar. Há olivais com perdas totais

11 dez 2020 12:17

Redução abrupta | As chuvas que se fizeram sentir durante o período de floração da oliveira fizeram quebrar a colheita de azeitona na região de forma acentuada. A produção de azeite vai ressentir-se

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Olivicultores da região de Leiria relatam quebras superiores à média nacional
Ricardo Graça
Daniela Franco Sousa

Depois de ter batido máximos históricos na campanha de 2019/2020, no próximo ano a produção de azeite deverá cair, a nível nacional, cerca de 30%, aponta o Instituto Nacional de Estatística.

No entanto, alguns produtores e cooperativas da nossa região reportam descidas ainda mais acentuadas nas suas colheitas de azeitona.

Há casos de produtores que não retiraram praticamente nada do olival. Estimam quebras de produção de azeite entre 50% a 100%.

João Dias, pequeno produtor de azeite em Alvaiázere, explica que, no seu concelho, a maior parte dos olivicultores teve quebras de produção de quase 100%, motivadas pelas chuvas que decorreram durante o período de floração.

“Este ano fiz dois dias de campanha, quando costumo fazer entre mês e meio e dois meses”, exemplifica João Dias, que explora um pequeno olival de cerca de 300 árvores.

José Vieira, gerente da Casa Féteira, de Porto de Mós, considera que na região Centro a produção de azeite deverá cair, em média, cerca de 80%. No seu caso, explica, na campanha anterior transformou 1500 toneladas de azeitona.

Já nesta campanha, talvez nem chegue a transformar 200. “As chuvas e o nevoeiro de Maio não deixaram vingar a azeitona”, justifica.

Sucede ainda que as oliveiras costumam alternar entre anos de muita produção e outros de muito menos produção, explica o responsável.

Perspectivas para futura campanha
Casa do Azeite mostra-se optimista com o próximo ano
Depois de ter batido máximos históricos na campanha anterior, de 2019/2020, com a produção de 141 mil toneladas de azeite, uma fasquia que já não era ultrapassada desde 1941, no próximo ano a produção de azeite, a nível nacional, deverá cair cerca de 30%, apontam os dados do Instituto Nacional de Estatística (INE).

As previsões agrícolas do INE revelam que a seca verificada em algumas regiões, o excesso de precipitação noutras e os prolongados períodos quentes e secos “determinaram uma menor carga de frutos” nas árvores.

No entanto, ouvida pelo Jornal de Negócios, Mariana Matos, líder da Casa do Azeite, defende que “produzir quase 100 mil toneladas num ano de contra-safra é muito positivo”.

E, vaticina a secretária-geral desta organização, “no próximo ano, se tudo correr bem, bateremos novo recorde”.

No caso da azeitona galega, a mais comum na zona de Leiria, essa alternância é ainda mais acentuada, expõe José Vieira, que justifica assim esta descida tão abrupta após a campanha anterior, que foi bem generosa.

Para dar resposta às suas encomendas de azeite, parte da matériaprima está a ser adquirida junto de fornecedores de azeitona do Alentejo, nota o gerente da Casa Féteira, que opera sobretudo no mercado nacional, mas também na Bélgica e na Alemanha.

Pedro Gil, presidente do Conselho de Administração da Cooperativa de Olivicultores de Fátima, que congrega 980 associados da região, refere que esta campanha “foi muito fraca” e que a quebra de produção terá sido de cerca 60%, motivada pelas chuvas de Maio.

Das quatro toneladas antes conseguidas, passou agora para menos de mil quilos. Mas a qualidade permanece boa, salienta Pedro Gil, cuja cooperativa abastece o mercado interno (40% da produção) e internacional (60%).

Sucessora da Adega Cooperativa de Ourém, a Divinis foi constituída há 14 anos e dedica-se ao engarrafamento de azeite, uma pequena parte dele oriundo de produtores da região e a restante parte fornecida por produtores de outros pontos do País.

José Pedro, gestor da Divinis, acredita que este ano a quebra tenha sido, a nível nacional, de 30% nos olivais intensivos e de 50% nos olivais tradicionais.

Nos olivais mais antigos, com oliveiras tradicionais, como é o caso da maior parte daqueles que existem na nossa região, a produção terá sido muito baixa, associada também ao aparecimento da gafa (doença que provoca destruição da polpa das azeitonas).