Sociedade

Quando o quartel foi transformado em campo de refugiados

8 abr 2021 20:30

Há 45 anos, chegavam a Leiria os primeiros refugiados da guerra em Angola. Foram instalados no antigo RAL4, onde está hoje a PSP, e aí viveram durante quase 10 anos, em condições “muito precárias”.

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Em 1983, viviam 130 famílias no antigo RAL4, totalizado 621 pessoas, entre as quais Ilda e Fátima Mendonça, Beatriz Abreu, Judite Ramusga e Rosa Santos
Ricardo Graça
Maria Anabela Silva

Já passaram 45 anos, mas Rosa Santos ainda tem bem presente o misto de emoções que sentiu quando, naquele dia 5 de Março de 1976, entrou, pela primeira vez, no espaço onde, até 1975, tinha funcionado o Regimento de Artilharia de Leiria (RAL4), entretanto transformado em local de acolhimento para centenas de pessoas vindas das ex-colónias.

Pessoas que, como Rosa, Fátima, Ilda, Judite e Beatriz, fugiram da guerra e que acabaram em Leiria, na maioria dos casos, sem nunca antes terem pisado Portugal. Por um lado, havia um sentimento de gratidão por “se estar vivo”, quando tantos tinham perecido numa guerra iniciada em 1962, há precisamente 60 anos.

Por outro, a constatação das condições precárias que os esperavam, num “quartel vazio, com ar abandonado”, onde quase tudo, desde antigas cavalariças, cozinhas, enfermaria ou caves, serviu como quartos, criados com paredes improvisadas, feitas de cobertores, mantas ou, no melhor dos casos, com contraplacado.

Rosa chegou com o marido e três filhos, de 15, 12 e oito anos. Foramlhes atribuídos dois quartos. Num deles, dormia o casal e as duas filhas, no outro, ficava a cama do rapaz, separada com um cobertor de um pequeno espaço que servia de cozinha e sala.

No desfiar de memórias, que junta mais quatro antigas 'moradoras' do ex-RAL4, Rosa recorda o choque de chegar, sem nada, a um lugar que pouco tinha, para recomeçar uma vida longe daquela que considerava a sua terra, apesar de ser natural de uma aldeia perto de Mirandela. É, aliás, a única do grupo nascida em Portugal. Todas as outras, são naturais de Angola.

“Não éramos retornados, mas sim refugiados. Viemos fugidos dos tiros, para uma terra que nunca tínhamos pisado”, afirma Beatriz Abreu, de 78 anos, que chegou ao ex-RAL4 meses depois de Rosa. Antes, esteve instalada no sanatório das Penhas da Saúde, na Serra da Estrela, outro dos locais que acolheu famílias oriundas das antigas colónias.

Fátima Mendonça conta que, à chegada ao aeroporto, era-lhes entregue uma guia – “o papel de recenseamento a que chamávamos guia do desembaraço, porque era como se estivessem a desembaraçar-

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