Desporto
Quando trocar as mãos pelos pés significa algo de muito positivo
Sílvio Roda disputou o Mundial e o Europeu apenas um ano depois de ter trocado o andebol pelo futsal.
Não, não vamos comparar os pés dele com os de Ricardinho. No máximo, poderíamos comprar as mãos de um com os pés do outro. No entanto, é inegável que Sílvio Roda deixou uma forte marca no futsal.
Foi o primeiro atleta da região de Leiria – e até agora o único – presente num Europeu, como aquele que por estes dias decorre na Sérvia, e o mais incrível é que se tinha dedicado à modalidade há pouco mais de um ano.
Hoje, com 40 anos, continua a jogar. Na Divisão de Honra distrital, é certo, mas com a mesma vontade de sempre. A ele, garantem, nunca é fácil marcar um golo. Corria o ano de 2003 quando Sílvio Roda decidiu abandonar o andebol e dedicar-se ao futsal.
Tinha 28 anos e uma carreira ao mais alto nível no desporto da bola na mão. Depois da formação na Sismaria e vários anos de consolidação no Académico de Leiria, saiu da cidade. Foi jogar para o Francisco de Holanda, de Guimarães, uma equipa de referência que militava na Divisão de Elite.
No entanto, nem tudo corria de feição. “Estava a começar a ficar farto”, admite. “Havia indefinição competitiva, com duas provas paralelas, e os clubes tinham dificuldade em cumprir os compromissos com os jogadores.”
Amante de futsal, participava em torneio de Verão pela região com os amigos e os seus talentos não passaram despercebidos a Tó Coelho, que então integrava a equipa técnica do Instituto D. João V, do Louriçal.
Sílvio foi convidado e decidiu aceitar. Apesar de haver diferenças palpáveis entre ser guarda-redes de uma modalidade e de outra, a verdade é que o trajecto no andebol lhe deu vantagens.
O lançamento de contra-ataque com a mão foi uma arma até então nunca vista nas quadras do País. Num mês, os técnicos Adil Amarante e Tó Coelho puseram-no au point.À quinta jornada fez o seu primeiro jogo oficial, logo na Luz, frente ao Benfica.
Ganhou (4-6), fez uma grande exibição e... até marcou um golo. A modalidade ficou em sobressalto. “Quem é este artista”, perguntava-se. Um ano bastou para chegar à selecção. Quando lhe disseram que tinha sido convocado, nem queria acreditar. “Pensei que era brincadeira.
O curioso é que o seleccionar nacional Orlando Duarte, um mês e tal antes, já tinha perguntado ao meu treinador se eu era estudante, para poder jogar na selecção universitária.
Já tinha acabado a licenciatura há três anos e andei uma semana a pensar em inscrever-me num curso qualquer em Leiria para poder representar a selecção portuguesa, mesmo que fosse apenas a universitária.” Tinha algo superior à espera. Na selecção principal estreou-se com a Inglaterra, a 21 de Outubro de 2004, e venceu 24-1.
Emocionou-se. “Lembrei- me das pessoas que me fizeram chegar ali, do meu caminho, não só do futsal, como também do andebol. Lembrei-me em especial do meu irmão, que foi de propósito ao Algarve para ver esse jogo.” Não sofreu golos no tempo que esteve em campo, como nunca sofreu nas sete internacionalizações e quase 90 minutos de jogo que somou por Portugal.
Depois, naturalmente, foi convocado para o Mundial, em Taiwan, em Novembro de 2004, e para o Europeu, na República Checa, em Fevereiro de 2005. Na primeira esteve uns minutos em campo, com a República Checa (4-8), mas na segunda nem por isso.
“Calharam-nos os tubarões, Itália e a Espanha, e só passavam dois. Perdemos os dois jogos e fomos jogar com os húngaros para fugir ao último lugar. Era para entrar, mas o resultado começou a descambar e o seleccionador já não trocou os guarda-redes. Acabámos por ganhar, mas com muitas dificuldades.”
Leia mais na edição impressa ou torne-se assinante para aceder à versão digital integral deste artigo.