Sociedade

Retrato de um povo "quase esquecido" pela lente de fotógrafo de Leiria

29 out 2022 15:00

Livro é o resultado de duas missões de Filipe Silva no Gungo, Angola, e tem uma componente solidária com parte das receitas a reverterem para o projecto missionário Ondjoyetu que a diocese de Leiria-Fátima tem nessa região.

Maria Anabela Silva

Um livro que se "centra nas pessoas" e que "procura tocar consciências, privilegiando os olhares, as expressões". É desta forma que Filipe Silva, fotografo de Leiria, apresenta a obra 34.000 de Nós - Gungo - Retrato de um povo quase esquecido, que resulta do trabalho que desenvolveu durante as duas missões que fez nesta região de Angola, a convite do grupo Ondjoyetu, da diocese de Leiria-Fátima.

O livro, que tem uma vertente solidária com parte das receitas a serem canalizadas para o projecto missionário, reúne mais de 200 fotografias que, nas palavras do autor, procuram transmitir "a humanidade, sentimentos, ansiedades de cada um dos habitantes do Gungo" que com ele se cruzaram durante a sua presença no território, em 2016 e 2022.

O fotografo explica ao JORNAL DE LEIRIA que, a par da componente solidária, o livro tem como objectivo "divulgar o povo do Gungo", onde residem cerca de 34 mil pessoas - número que aparece no título do livro -, e a obra do grupo missionário em Angola.

"É um projecto que efectivamente funciona, pela sua metodologia e filosofia. Envolvem as pessoas no apoio que dão e, dessa forma, criam conhecimento e autonomia", salienta Filipe Silva, que antes do Gungo, tinha participado em missões humanitárias em vários países africanos, como Burkina Faso, Guiné-Bissau e Togo.

A primeira missão de Filipe Silva no Gungo aconteceu em 2016, por ocasião dos dez anos de actividade do grupo Ondjoyetu naquele território. Foi acompanhado de um jornalista e o objectivo era fazer um "retrato vivo" do trabalho missionário na região, que deveria depois ser traduzido num livro. Mas, "por vicissitudes várias", a obra não aconteceu. Até que, em 2022, o fotógrafo decidiu regressar a Angola, agora vestindo pele de "missionário, ou seja, de alguém que persegue um objectivo".

"Sentia ter uma dívida de gratidão com o grupo missionário e com o povo do Gungo. Era-me difícil lidar com a questão de lá ter estado e de essa vivência não ter dado em nada", assume. Em Agosto deste voltou a percorrer as aldeias do Gungo, acompanhado de outra voluntária e de uma jovem apoiada pela missão, que serviu de "facilitadora" de contactos e de tradutora.

Além da recolha de imagens, procuraram fazer também um levantamento das necessidades junto da população local. "Do que ouvimos, ficou claro que aquelas pessoas necessitam de mais presença de missionários que lhes passem conhecimento, por exemplo, nas áreas da saúde, dos cuidados materno-infantis ou de técnicas de construção e reparação", revela Filipe Silva.

A expectativa do fotógrafo é que o livro possa funcionar como "ferramenta" que ajude a cumprir o ensejo da população do Gungo, "mobilizando a sociedade" no apoio ao grupo missionário, não só ao nível de recursos materiais, mas também humanos.

O livro está em pré-venda até ao dia 6 de Novembro, no site do fotógrafo (www.filipe-silva.pt). A apresentação oficial acontecerá em Dezembro na São Óticas, na Avenida Heróis de Angola, em Leiria, onde ficará patente a exposição de fotografias "34 000 de Nós". O livro servirá também de ponto de partida para palestras que o autor pretende dinamizar, para divulgar o trabalho do grupo Ondjoyetu e o povo do Gungo.