Desporto
Ricardo Porém e João Ferreira levam Leiria à maior de todas as aventuras
Dois pilotos de Leiria preparam-se para participar na mais dura e mediática aventura de todo-o-terreno do planeta. A competição arranca no último dia do ano, na Arábia Saudita
São amigos do peito, daqueles que celebram o sucesso do outro com a mesma intensidade que vibram com uma vitória sua, e estão prestes a partir para a maior aventura de todas.
O Dakar Rally arranca a 31 de Dezembro e Leiria vai estar representada na mais dura, desafiante, mediática e cruel prova de todo-o-terreno do planeta por dois veículos pilotados por Ricardo Porém e João Ferreira. Acreditam ambos estar prontos para enfrentar, em 15 dias de prova, os desafios impostos por 8.528 quilómetros ao volante, sendo que 4.607 destes são contra o cronómetro.
No entanto, se para Ricardo Porém, campeão nacional em 2014 e 2017, se trata da quarta presença no Dakar, para João Ferreira será a estreia, numa temporada em que ganhou tudo o que tinha para ganhar.
Sagrou-se campeão nacional, ibérico e europeu, além de ter conquistado a Baja Portalegre 500, prova que integra a Taça do Mundo da modalidade, sempre ao volante de um Mini John Cooper Works.
Os dois pilotos de Leiria, que serão navegados respectivamente pelo argentino Augusto Sanz e pelo português Filipe Palmeiro, que fará o seu 17.º Dakar Rally, vão competir no deserto da Arábia Saudita aos comandos de dois X-Raid Yamanha Supported Team YXZ 1000 R, duas “endiabradas” viaturas da categoria T3, muito rápidas, fiáveis e fáceis de conduzir que, paulatinamente, começam a ameaçar a hegemonia dos carros clássicos da categoria T1.
Lutar por lugares de destaque
Ricardo Porém parte, pois, com expectativas elevadas, crente que pode “lutar por lugares de destaque”, apesar de estar ciente de que, nesta prova em específico, carregada de armadilhas, tudo pode acontecer. “Não sei se podemos definir uma táctica para o Dakar. São muitos dias, com etapas enormes, algumas com 800 quilómetros, e muita coisa pode acontecer.”
Para fazer uma corrida de sucesso entende, pois, ser necessário “encontrar o balanço entre a performance, a mecânica do carro e o nosso desgaste físico e psicológico”.
A experiência que acumulou nas outras três aventuras, acredita, deverá ajudá-lo a lidar com as diferentes situações de corrida, pelo que avança, confiante, para a linha de partida. “Obviamente, gosto de lutar pela vitória mas temos de ser realistas e com a noção de que há equipas muito boas e pilotos muito rodados e com experiência de Dakar. Vou fazer tudo para conseguir um top-5 da categoria T3, acho que já seria um resultado fantástico”, sublinha Ricardo Porém.
João Ferreira experimentou os segredos do deserto no Rali de Marrocos deste ano, acompanhado por Filipe Palmeiro, e está ansioso por colocar balaclava, capacete e luvas, esperando que não entre muita areia no fato. “É surreal embarcar nesta aventura. Lembro-me de ser criança e de ver o Dakar na televisão. Ter a oportunidade, passados estes anos, de embarcar numa aventura destas numa equipa como a X-Raid que é, sem dúvida, um das melhores do mundo, é uma honra muito grande e será mais um passo na minha aprendizagem.”
Aprender sempre
Sem querer quantificar o que seria uma boa prestação na Arábia Saudita, o piloto de 23 anos admite que luta sempre pela vitória, mas está consciente de que é um rookie com “muito a aprender” nestas traiçoeiras dunas. “O meu objectivo passa por aprender a cada dia e estar no pódio final com a medalha de participação. O que vier além disso será muito bem-vindo.”
Já Sven Quandt, o managing director da X-Raid que esteve presente na partida simbólica desta dupla, que decorreu, em Leiria, na passada sexta- feira, não escondeu estar “muito contente” por ter estes dois pilotos entre os sete da sua equipa, três delas mulheres.
“Espero muito deles. Ninguém imaginou que o João Ferreira poderia ganhar o campeonato europeu, mas ele mostrou-me que sabe conduzir. Agora é deserto, que é diferente, mas ele esteve muito bem em Marrocos. São ambos muito rápidos. O Ricardo é muito experiente, sabe como correr e colocar a sua velocidade durante toda a prova. Será essa a maior dificuldade crítica do João, correr de forma constante durante 15 dias, sempre a um bom ritmo, mas o Filipe Palmeiro vai ajudá-lo.”
Tem, pois, fé, de que os resultados vão aparecer. “Devem estar no top 5. Mais, só com muita sorte. Em Dakar é o carro, são os pilotos, é a fiabilidade, a experiência e a sorte. Sem sorte, nunca se ganhará um Dakar.”