Desporto

Sèrge Kevyn: há quatro anos via Aubameyang na televisão e agora joga com ele

5 jan 2017 00:00

O avançado da União de Leiria foi convocado para jogar a CAN pelo Gabão, partilhando balneário com Aubameyang e Lemina, por exemplo. Diz que são todos muito simpáticos

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“Kevyn? Quem é este miúdo?” Pierre-Emerick Aubameyang nunca tinha ouvido falar do ponta-de-lança da União de Leiria, a grande novidade entre os convocados para os encontros da selecção do Gabão com o Sudão e os Camarões, disputados em Setembro.

No entanto, bastaram uns minutos, meia-dúzia de toques na bola e três ou quatro sprints para perceber que estava ali uma pérola escondida nos escalões inferiores de Portugal.

“Ele é muito bom! Joga na 3.ª Divisão portuguesa? Não pode ser!” O avançado do Borussia de Dortmund, eleito o melhor futebolista africano do ano, é a grande figura da representação gabonesa, selecção que vai jogar em casa a Taça das Nações Africanas (CAN) e para a qual também foi convocado o jogador unionista.

A competição começa a 14 de Janeiro e prolonga-se até 5 de Fevereiro. Sèrge Kevyn está nas nuvens. “Há quatro estava a ver a CAN em casa, com o Aubameyang a fazer muitos golos, e agora vou jogar a CAN com ele”, explica o avançado, de 22 anos.

A convocatória chegou a 23 de Dezembro e foi uma espécie de prenda de Natal antecipada.

“Foi o melhor presente de todos! Quando estava à espera da convocatória parecia que o meu coração saltava. Estava sempre a perguntar ao director da União de Leiria se já tinha chegado. Fiquei muito stressado.” O antigo jogador do Vizela ficou, naturalmente, “muito feliz”.

“É um sonho que tenho desde criança. Na carreira de um futebolista africano é a melhor coisa que pode acontecer. Jogar a CAN, ainda por cima no meu país, é algo enorme.” De sorriso nos lábios, Kevyn não consegue esconder a alegria.

Se lhe dissessem há um ano que iria estar presente na competição das competições, provavelmente não iria acreditar.

Após ter jogado em todas as selecções jovens do Gabão, quando chegou a Portugal para jogar nos juniores do Sporting de Braga, em 2012, tinha passado a ser praticamente transparente para os responsáveis técnicos do Gabão.

Só nos últimos meses, desde que em Agosto chegou à União de Leiria, é que começou a ser chamado para representar a principal selecção do seu país. “Não podia largar a oportunidade. Quando entrava em campo pensava que a CAN estava quase e que tinha de dar o máximo.”

Até agora, as coisas para Kevyn não podiam estar a correr melhor. “Temia que por estar numa divisão inferior não iria conseguir aguentar o ritmo de jogo dos futebolistas de grandes clubes mundiais, mas em Leiria tenho um grupo muito bom, está a um nível top e não há qualquer diferença.”

Surpresa das surpresas, no jogo de qualificação para o Mundial, frente ao Mali, em Novembro último, Kevyn foi titular, numa equipa que também integrava o badalado Aubameyang e Lemina, estrela da Juventus.

“Foi uma alegria e quando entrei em campo quase que chorava, mas depois de começar o jogo já não havia Lemina ou Aubameyang, eram todos iguais. Claro que depois fiquei muito contente, orgulhoso por ser titular num jogo daquela importância. De certeza que quando saiu o onze muita gente no Gabão perguntou: esse miúdo vai jogar a titular? Mas depois deram-me os parabéns e agora acho já não há dúvidas no país sobre o meu valor.”

Autógrafo ao irmão
Perguntamos a Kevyn como é a relação com esses astros. Divas ou comparsas? “São muito simpáticos. O Lemina está sempre a falar comigo e a dizer para aguardar a oportunidade, que tenho futebol para jogar ao mais alto nível. Já é meu amigo. O Aubameyang é mais tranquilo, mas fala com todos. Também pensei que não fosse fácil, mas falo com ele como falo com o Tony ou o Amessan [jogadores da União de Leiria]. Não há diferença por ser o capitão, jogar no Dortmund e ser o melhor jogador africano.”

Ali, estão todos juntos por um objectivo. Além do mais, Pierre-Emerick é disponível e gosta que os colegas se sintam bem. Vai um exemplo. O irmão de Kevyn foi visitá-los ao estágio e queria uma recordação com o astro.

 

“Aubameyang estava a dormir, mas fui lá, ganhei coragem, acordei-o e disse que o meu irmão queria tirar uma foto com ele. Saiu do quarto e foi. É muito humilde”, explica Serge Kevyn. Agora, é hora de pensar na máxima competição africana.

O atleta já está no seu país, em estágio com os restantes convocados. O primeiro jogo do Gabão está marcado para dia 14, com a Guiné-Bissau. Segue-se o Burkina Faso, de Paulo Duarte e Vasco Évora, a 18.

O último jogo da fase de grupos será com os Camarões, a 22. Objectivo? “Ganhar. Temos potencial, ainda por cima a jogar em casa. Sabemos que o público vai apoiar, mas também vai ser exigente. Quanto a mim, vou dar o máximo.”

Ernest ou Amessan
Do que Kevyn – que diz ser “muito rápido” e que chutar “muito bem” – tem pena é de não poder contribuir nos jogos decisivos da sua equipa.

É que se as coisas correrem bem ao Gabão e a equipa agora orientada por José Antonio Camacho chegar às meias-finais da CAN, o avançado já não vai participar nos encontros da primeira fase do Campeonato de Portugal.

Sabe-se que a União de Leiria tem “quatro finais” até ao final do mês de Janeiro e o gabonês só deverá voltar ao Magalhães Pessoa em Fevereiro. Triste, sim, mas jamais apreensivo.

“Sinto muita pena de jogar com o Fátima. Temos seguido um caminho muito bom – com sete vitórias e um empate - mas não estou preocupado. O plantel é muito bom e se não jogo eu, joga outro, é igual. O Kevyn, o Ernest ou o Amessan? É igual. O plantel é muito bom e é por isso que estou na selecção.” E a subida? “É possível, mas vamos pensar primeiro em passar à segunda fase.”

E pensar que este menino esteve para abandonar o futebol há dois anos, porque sentia a falta da mãe perto de si. Voltou ao Gabão, regressou a Portugal e agora, porque recusou desistir, a vida sorri-lhe.