Sociedade

Social-democratas querem conhecer impactos de central solar flutuante na barragem do Cabril

29 abr 2022 16:33

A capacidade instalada será entre 33 MW (megawatt) e 40 MW

social-democratas-querem-conhecer-impactos-de-central-solar-flutuante-na-barragem-do-cabril
Barragem do Cabril
Jacinto Silva Duro
Redacção/Agência Lusa

O PSD questionou o Governo sobre os impactos da instalação de uma central solar flutuante perto da barragem do Cabril e a forma como vão ser acautelados os interesses dos municípios, populações e agentes socioeconómicos na utilização da albufeira.

Numa pergunta dirigida ao Ministro do Ambiente e Acção Climática, Duarte Cordeiro (PS), 17 deputados social-democratas querem também saber “como se compatibilizarão as actividades turísticas e os investimentos já realizados ou previstos com a operação da nova estrutura” e que “restrições poderão existir para as aeronaves que ali realizam abastecimento de água para combate a incêndios”.

A barragem do Cabril une o concelho de Pedrógão Grande (distrito de Leiria) à freguesia de Pedrógão Pequeno (concelho da Sertã, distrito de Castelo Branco).

No início do mês, a Voltalia informou ter conquistado o projecto de energia solar flutuante na barragem do Cabril.

Esta central “vai ser instalada perto da barragem do Cabril", e “a capacidade instalada será entre 33 MW [megawatt] e 40 MW, dependendo da optimização final do projecto”, adiantou a empresa, referindo que a estrutura, com 33 hectares, “vai fornecer energia verde para um volume equivalente ao consumo de 70.300 habitantes”.

Na pergunta do PSD hoje divulgada, lê-se que “a albufeira do Cabril é um importante reservatório de água, localizado no curso do rio Zêzere, abrangendo territórios dos concelhos de Pedrógão Grande, Sertã, Pampilhosa da Serra e Oleiros”.

“A albufeira tem múltiplas utilizações, inclusivamente ao nível do turismo e das actividades náuticas, podendo também destacar-se a sua relevância enquanto ponto de abastecimento para aeronaves que fazem o combate a incêndios”, adianta.

Para os deputados, a instalação da central flutuante “levanta vários desafios de compatibilização de usos na albufeira do Cabril”, defendendo que “as suas especificidades deveriam ter sido discutidas numa fase prévia ao procedimento concursal”.

Segundo o PSD, “têm sido feitos investimentos na valorização ambiental e na dinamização turística que poderão incorrer em riscos face à ocupação de áreas da albufeira por painéis solares, dependendo da localização”.

“Acresce o facto de estarmos em contexto de restrição hidrológica”, notam os parlamentares, assinalando que “as previsões de longo prazo associadas às alterações climáticas indicam que as secas e a diminuição da pluviosidade poderão reduzir a disponibilidade de recursos hídricos”.

No documento, os sociais-democratas perguntam como se vão compatibilizar “as actividades turísticas e os investimentos já realizados ou previstos com a operação da nova estrutura” e quem vai assumir eventuais prejuízos que “este projecto poderá causar ao projeto do centro náutico” em Pedrógão Grande.

O PSD pretende conhecer ainda, entre outras aspectos, como vai ser feito “o enquadramento legal deste novo uso do espaço” face à “ausência de um plano de ordenamento actualizado que considere estes novos usos energéticos” e “quais os benefícios diretos e as contrapartidas económicas para os municípios” que “terão restrições adicionais ao usufruto do espelho de água”.

No dia 14, a Câmara e o Clube Náutico de Pedrógão Grande manifestaram preocupação com o impacto da instalação da central solar flutuante.

“Estou preocupado com o impacto do projecto”, afirmou o presidente do Município de Pedrógão Grande, António Lopes, que pretendia saber como vai ser possível “acomodar o uso da albufeira para o combate aos incêndios e para as actividades turísticas e náuticas”.

Já o presidente do Clube Náutico, Nuno Fernandes, alertou que “a componente paisagística, o cartaz turístico, fica deteriorado de forma significativa” com a central, receando o impacto negativo no turismo.

No mesmo dia, o responsável da empresa em Portugal, João Amaral, disse que, “do ponto de vista de projecto, a Voltalia vai trabalhar por ter o menor impacto ambiental possível, como faz sempre em todos os projectos que tem”.

João Amaral fez ainda saber que “a Voltalia é sensível à combinação de localizações, porque um projeto deste género terá que se adaptar à natureza e ao nível de água da albufeira, até porque não há escavações como num projecto em terra”.