Sociedade
Trabalhou com a máfia, fez fortuna, vive em Fátima. Quem é Joe Pereira?
A justiça americana acusa-o de crimes puníveis com prisão até 235 anos, tem ligações à família Gambino, mas vive nas imediações do Santuário da Cova da Iria e vende terços e promessas pela internet.
Talvez não reparem, à primeira, mas o homem vestido de preto na fotografia, queixo proeminente a lembrar o mais famoso padrinho de Hollywood, sapato brilhante e cabelo puxado atrás, usa dois vistosos anéis de ouro, cada qual com a sua história. Um terá a ver com o tempo em que viveu na Grécia, instalado na ilha de Creta. O outro terá sido oferta por bons serviços prestados à família Gambino, a organização mafiosa de Nova Iorque a que Joe Pereira reclama ter pertencido.
Podemos apenas especular acerca do passado deste indivíduo franzino, que vive discreto, mas livre, numa moradia comum, em Fátima, muito perto do Santuário da Cova da Iria. E que nos confessa todo o tipo de crimes, no território controlado por John Gotti, durante os anos 80 e 90.
Factos: em 1984, José Pereira Guerra casou com a italiana Linda Difucci, filha de Dominick “Fat Dom” Difucci, que o português identifica como mafioso – o capo responsável por gerir o jogo ilegal na zona de Queens e Manhattan. Mais factos: em 2006, as autoridades americanas apontam-no como cérebro de uma poderosa rede de corrupção que tinha por objectivo ganhar dinheiro com a imigração clandestina para os Estados Unidos. A investigação identifica 300 vítimas lesadas em mais de 2,5 milhões de euros. E o imigrante nascido nos arredores de Fátima inicia a viagem de regresso a casa, após 35 anos nos states, onde ganhou a alcunha de Little Joe e fez fortuna.
Agora, durante a conversa com o Jornal de Leiria, sempre bem-disposto, não há sinais exteriores de riqueza, excepto alguns bens materiais que se encontram à vista: o Mercedes, as máquinas fotográficas, os computadores. A narrativa, pelo contrário, está carregada de luxos e excessos, nomes famosos e peripécias de pasmar, dignas dos melhores romances de aventuras. É sem aviso que diz frases como esta: “Uma vez no princípio da vida perguntei à Madonna o que ela fazia. Não sabia quem era”.
No cartão de visita, que entrega à saída, apresenta-se como consultor do Dighton Group, uma empresa de comércio internacional. Mas também recebe peregrinos estrangeiros, enviados por agências de viagens especializadas em destinos religiosos. É ele quem os acolhe em Fátima e ninguém desconfia do passado alegadamente ligado ao tráfico de droga, branqueamento de capitais, agiotagem e fraude.
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