Desporto
Ultra Fantasmas: histórias de uma claque que não lembram ao diabo
Passaram duas décadas. Mais gordos e carecas, alguns dos elementos mais activos da antiga claque da União de Leiria regressaram connosco ao estádio. Contaram histórias e riram muito
Gostavam tanto, mas tanto da União de Leiria que até iam de Casal Boss para Coimbra, se necessário fosse. Nuno Oliveira, Paulo Cainço, Nélson Beato e Paulo Fuentez: alguns não entram num estádio há anos, mas quando começam a falar dos Ultra Fantasmas não conseguem parar de rir.
Enquanto miúdos, puxaram de forma incessante pelo clube da cidade, fosse nas Antas, na Luz, em Espinho ou Campo Maior. Hoje, homens e pais de família, são (quase) tudo boas recordações.
Parece que foi ontem, mas faz precisamente 25 anos que aquela mítica claque da União Desportiva de Leiria foi fundada. A história ultra na cidade teve na Juve Branca uma referência.
A claque chegou a juntar centenas de pessoas e era formada por jovens dos escalões de formação. Depois, apareceram os Anjos Brancos, mas o nome não era suficientemente agressivo para um grupo de tiffosi e, uma semana depois, lá apareceram mascarados de Ultra Fantasmas.
“O movimento estava bastante em voga e trocávamos merchandising com pessoas de todo o mundo”, recorda Paulo Cainço, que teve de meter mãos à obra para poder ver o primeiro material da claque no estádio.
“A faixa dos Ultra Fantasmas foi feita na minha garagem, com os lençóis velhos da mãe e tinta de água vermelha.” Era o início de um mundo de aventuras e o “surpreendente” patrocínio “de 500 contos” da Escola de Condução Morais acabou por permitir vários luxos.
“Comprámos tochas fora de prazo aos pescadores de Peniche, fizemos faixas e chegámos a deslocar-nos oito num autocarro a um jogo no campo do Salgueiros”, enfatiza Nuno Oliveira. “Também fizemos peditórios nos jogos para comprar tambores no Centro Comercial Lis. Depois, estragaram-se todos”, recorda Paulo Fuentez.
O leitor é comerciante em Leiria? Lembra-se de alguma vez o seu extintor ter desaparecido? Provavelmente foram os Ultra Fantasmas. “Era espectacular descarregá-los na entrada das equipas em campo”, brinca Nuno Oliveira.
Uma claque é, por norma, rica em diabruras e no meio de dezenas e dezenas de pessoas é difícil controlar toda a gente. Entre alguns impublicáveis, recordam-se de um episódio em que “alguém” da claque atirou uma tocha pelo corredor do autocarro da Fúria Azul, do Belenenses. “Foi vê-los a sair do veículo a tossir. O problema é que não era só a claque que estava no veículo, também havia pessoas mais velhas”, lamenta Paulo Cainço.
Nuno Oliveira, meu caro, está na hora de assumir os seus actos de vandalismo. “Lembro-me de estar a pintar nas ruas com spray, porque me parecia que ficava bem Leiria acordar cheia de símbolos dos Ultra Fantasmas. Entretanto, alguém de um jornal da cidade contactou-me a perguntar o que eu, enquanto responsável do grupo, pensava daquilo. Disse que não achava nada bem e que se descobríssemos quem tinha seria expulso da claque.”
No entanto, exceptuando algumas travessuras, asseguram que os Ultra Fantasmas eram “pacíficos” e “bastante conceituados” pelo País. Foram eles, de resto, que organizaram em Leiria o primeiro congresso de claques. Correu bem. E correu mal. “Deve ter sido o último momento do Hotel Lis. Ligaram-se às sete e meia da manhã do hotel a dizer 'venha cá, venha cá, que isto está tudo partido'.”
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