Viver

Uma nova edição de Animais Nossos Amigos para conhecer em Leiria

15 fev 2022 09:00

Tem chancela da Parsifal e ilustrações de Dina Sachse, que opta por uma abordagem contemporânea, segundo a própria, em “completo contraste” com o original de 1911

uma-nova-edicao-de-animais-nossos-amigos-para-conhecer-em-leiria
Ilustração de Dina Sachse para Animais Nossos Amigos

Uma nova edição do livro de poesia para crianças Animais Nossos Amigos, de Afonso Lopes Vieira, publicado pela primeira vez em 1911, com ilustrações do arquitecto Raul Lino, é apresentada no próximo fim-de-semana, em Leiria. Tem chancela da Parsifal e ilustrações de Dina Sachse, que opta por uma abordagem contemporânea, segundo a própria, em “completo contraste” com o original.

A “escrita orgânica” e “tradicional” de Afonso Lopes Vieira, com “reminiscências de um Portugal antigo”, inspira um “trabalho de geometrização” que pretende “simplificar as formas”.

Os personagens surgem em harmonia com a natureza: alguns assemelham-se a montanhas, outros parecem originar plantas. Dina Sachse lembra a “visão positiva dos animais” proposta por Afonso Lopes Vieira, mensagem que a ilustradora considera “bastante actual”.

As ilustrações de Dina Sachse podem ser vistas até 5 de Março na galeria da BMALV.

Já a apresentação da edição da Parsifal para Animais Nossos Amigos acontece no sábado, 19 de Fevereiro, pelas 17 horas, também na BMALV, com a presença do editor, Marcelo Teixeira, e da investigadora Cristina Nobre, especialista na vida e obra de Afonso Lopes Vieira.

Na BMALV existem vários edições de Animais Nossos Amigos: a mais antiga data de 1911, a mais recente é de 2016 e da responsabilidade da Alêtheia com ilustrações de Gulliver Vianei.

Ilustração de Dina Sachse para Animais Nossos Amigos

Editado pela primeira vez no Natal de 1911, o livro seria “traduzido e editado em Espanha na década de 1920 (edição que mantém as ilustrações de Raul Lino, acrescentadas das necessárias adaptações por Arturo Ballester) e eleito para o cânone literário das Bibliotecas das Escolas Primárias numa versão ilustrada por Maria de Lurdes. Outras edições conhecidas são as de 1931 ou de 1973, das quais a Biblioteca Afonso Lopes Vieira conserva exemplares, ou a edição de 1992, pela editora Livros Cotovia, e que consiste numa edição fac-similada da primeira edição”, lê-se num artigo publicado em Dezembro de 2016, no volume 11 dos Cadernos de Estudos Leirienses, assinado por Cristina Nobre, Sara Marques da Cruz, Vânia Carvalho e Mário Coelho.

Segundo o mesmo artigo, em Animais Nosso Amigos, Afonso Lopes Vieira “conjugou o amor pela natureza com a dedicação à causa da infância”. Escreve versos “dedicados a oito animais distintos – o cão, o gato, o lobo, o pássaro, o burro, o boi, a abelha e o sapo – realçando de cada um as qualidades que os fazem admiráveis e dignos de respeito”.

O objectivo, ainda de acordo com o volume 11 dos Cadernos de Estudos Leirienses, era “naturalizar a nossa poesia infantil nas suas raízes ancestrais” e acertar o passo com teorias da psicologia do desenvolvimento infantil sobre “a necessidade de cercar as crianças de mais tenra idade com personagens-animais familiares, de tal modo que a segurança do mundo envolvente seja assimilada”.

Animais Nossos Amigos é o primeiro – e “talvez o mais conhecido de todos”, lembra Cristina Nobre ao JORNAL DE LEIRIA – dos títulos de Afonso Lopes Vieira para a infância.

Ilustração de Dina Sachse para Animais Nossos Amigos

Os animais-personagens do texto seriam representados em pedra pelo escultor Pedro Anjos Teixeira, também conhecido como Anjos Teixeira Filho, peças substituídas, na década de 80, por figuras fundidas em bronze, que se encontram no Parque Tenente Coronel Jaime Filipe da Fonseca, o Parque do Avião.

Nascido em Leiria a 26 de Janeiro de 1878, Afonso Lopes Vieira faleceu em Lisboa, um dia antes de completar 68 anos. Poeta, prosador, investigador e divulgador da cultura portuguesa, fortemente influenciado pelo ambiente de Cortes e de São Pedro de Moel, destacou-se na promoção dos valores artísticos e culturais nacionais e alcançou notoriedade pública na primeira metade do século XX.