Opinião

A necessidade de votar

3 fev 2022 15:45

Não há votos bons e votos maus, há os votos em liberdade de que é feita a democracia

A abstenção desceu um pouco, os portugueses escolheram ao arrepio das sondagens, tudo decorreu sem atropelos, e a pandemia e o medo de contágios não mostraram ter impacto na ida às urnas.

O exercício da democracia aconteceu mais uma vez, esclarecendo, quem eventualmente pudesse ainda ter dúvidas, que somos um povo inteligente e um país civilizado.

Os portugueses pensam pela sua cabeça e decidem sozinhos e, por muito que as decisões não agradem, naturalmente, a todos, e se esgrimam avisos, culpas, e alertas de consequências, essa autonomia é o cerne da livre escolha e a essência do funcionamento democrático das instituições.

Seja uma escolha de vida ou a de um mal menor, seja uma escolha estratégica ou penalizadora, seja escolher com uma visão global ou centrado no seu umbigo, a capacidade de decidir e as razões que assistem a essa decisão merecem o respeito de todos.

Não há votos bons e votos maus, há os votos em liberdade de que é feita a democracia.

Mas parece-me claro que teremos que dedicar muito mais atenção aos números da abstenção, a maior entre os países da EU, e perceber por que razão tantos portugueses continuam desinteressados do voto, já que opções de escolha não faltaram.

Os abstencionistas são maioritariamente jovens entre os 18 e os 30, o que deixa perceber que nem o facto de votar pela primeira vez os entusiasma.

A campanha de mobilização levada a cabo pelo Instituto Português do Desporto e Juventude (IPDJ), com a colaboração a Federação Nacional das Associações Juvenis (FNAJ) e a Associação Nacional de Assembleias Municipais (ANAM) centrava-se na literacia política, na necessidade de os jovens debaterem as propostas que lhes interessam para o seu futuro e, claro está, no apelo ao voto.

Mas uma campanha pontual não resolve este problema que se vai tornando endémico.

Carece a nossa vida política de uma atitude mais moderna, menos circunstancialmente belicosa e mais interessante na discussão de ideias; de uma atenção a tempo inteiro à literacia política, a introduzir nas escolas; de um aprofundar das possibilidades do voto em mobilidade com dias de semana para o seu exercício; e de os partidos aproveitarem as suas juventudes para bastante mais do que agitar bandeiras em comícios e arruadas, dando-lhes presença e voz, vivíveis, na discussão de problemas e na elaboração de propostas realmente importantes.

O exercício da democracia está ligado ao do voto, e a força deste está ligada à proporção de votantes em relação ao número de eleitores.

Mais do que um direito, o voto é uma obrigação inerente à responsabilidade e ao civismo individuais que não deveremos descurar se não quisermos ver ameaçadas e colocadas em dúvida, no futuro, as escolhas de uma percentagem reduzida da população.

A manutenção da democracia só depende de nós.

E o rumo de um país depende sempre das escolhas feitas pelos seus cidadãos.