Opinião

As virtudes decisivas

23 mar 2024 10:39

A capacidade para discernir fazendo distinções e julgamentos desenvolve-se com o tempo

Ética (do grego antigo: ethos “carácter” ou “costume”), consiste no conjunto de padrões e valores morais de um indivíduo ou grupo. Em Filosofia, a ética ou moral é a disciplina que estuda os fundamentos da acção, procurando justificar a moralidade de uma decisão, distinguindo acções morais das imorais e amorais. A Ética procura responder a várias questões: Como devemos viver? ou Como devemos agir? Constituiu uma das grandes preocupações no trabalho de Aristóteles.

Para o filósofo grego, qualquer pessoa deveria aspirar à virtude, que não é mais do que uma forma de comportamento, um hábito selectivo, manifestado na procura de um compromisso entre o excesso e o defeito. Seguindo Platão, Aristóteles assinalava a força, a temperança, a prudência e a justiça como virtudes elevadas.

A Idade Média cristã manteve esta premissa, relevando as chamadas “virtudes cardinais”, a estas acrescentando as “virtudes teológicas”: fé, esperança e caridade. A reflexão ética exige julgamento. Seremos capazes de identificar factos relevantes num determinado momento, inferindo se os nossos princípios orientadores se aplicam ou nos contradizem. O que pode constituir um dilema, pois “o homem é o lobo do homem” (Plauto, séc. III a.C.).

A capacidade para discernir fazendo distinções e julgamentos desenvolve-se com o tempo. Adquirimos na infância os princípios éticos de base, a par das estruturas mentais valorativas. Tal é inequívoco, para a maioria das culturas que ensinam às crianças a denominada “regra de ouro”, o que se traduz numa pergunta basilar: “como te sentirias se alguém te tivesse feito isso a ti?”. A formação ética não finda – é um processo construtivo que envolve questionamento contínuo e pensamento crítico permanente. Essa é a verdadeira substância da reflexão: aperfeiçoar a capacidade de julgamento através da experiência, do discernimento aclarado em discussões argumentativas, nas adversidades e conflitos.

Todos beneficiam da reflexão ética sobre assuntos fracturantes da vida contemporânea, nomeadamente no que concerne às obrigações em torno da política, dos deveres de cidadania, do amor ao semelhante ou em relação às situações de injustiça. Saibamos assumir erros e erigir novos desafios, contrariando a tendência para a estagnação e conformismo. Evoquemos, mais do que nunca, a audácia contida na afirmação de Nietzsche: «A moralidade é a melhor de todas as regras para orientar a humanidade».