Opinião
Autárquicas
Uma agenda consistente de cultura, ciência e desporto cria densidade social, atrai visitantes e gera novas ideias e negócios
Em Leiria, a próxima eleição autárquica será o momento de medir a nossa ambição: se estamos dispostos a manter a velocidade num mundo em mudança ou se ficamos na berma a discutir o passado. A boa política começa na estratégia, montando o triângulo que conta: talento, tecnologia e território. Talento não é um slogan para “reter jovens”; é uma máquina de formação e requalificação alinhada com o IPLeiria e as escolas profissionais, focada nas competências que as empresas precisam.
Tecnologia não é só fazer hackathons, é atrair I&D, ligar startups a fábricas e transformar dados em produtividade. Território não é paisagismo; é habitação a preços praticáveis, mobilidade integrada e licenciamento rápido para quem cria valor. O atual executivo acertou ao aproximar a estratégia municipal do ecossistema empreendedor, nomeadamente com a Startup Leiria (hoje o 3º melhor ecossistema de empreendedorismo do País).
Agora, é preciso escalar essa colaboração, para uma maior transformação empresarial do tecido pré-existente. A centralidade de Leiria é um trunfo. A uma hora de quase tudo, este potencial exige mobilidade funcional: transportes públicos fiáveis, ciclovias seguras e nós intermodais que simplifiquem a vida. Mobilidade é produtividade e inclusão; sem ela, a cidade perde pulso.
Outro ativo é a qualidade de vida. Leiria lidera rankings por combinar segurança, cultura, serviços e natureza. Esta reputação, crucial na guerra por talento qualificado, exige manutenção: espaços públicos cuidados, habitação acessível, escolas e saúde a funcionar, e políticas de integração.
Os eventos, tantas vezes criticados, não são um adereço. São motores de identidade, economia e redes. Uma agenda consistente de cultura, ciência e desporto cria densidade social, atrai visitantes e gera novas ideias e negócios.
O futuro passa por fazer da faixa Leiria–Marinha Grande o cluster ibérico de engenharia avançada, assente na base da madura indústria de moldes e produto; materiais; automação e software; energia e circularidade. Com um pipeline de talento vindo do IPLeiria e escolas profissionais, mas também de fora da região e do País.
É fundamental atrair I&D: laboratórios colaborativos, doutoramentos industriais, fast-track de licenças e serviços partilhados de prototipagem. Devemos manter a existência de fundo de capital de risco intermunicipal e fomentar as compras públicas de inovação.
O futuro mede-se por emprego qualificado, investimento privado, produtividade, exportações tecnológicas e emissões evitadas. Com disciplina e parceria — autarquias, universidades, empresas, cidadãos — Leiria passará a competir pelo conhecimento, pela qualidade e pela velocidade de execução. Essa é a obra que conta.
Texto escrito segundo as regras do Novo Acordo Ortográfico de 1990