Opinião

Europa em fragmentação: O desafio de uma nova ordem global

22 nov 2025 10:26

A UE continua a evitar assumir responsabilidades próprias, sinal de elites políticas que preferem a inércia à proatividade estratégica

A guerra na Ucrânia mostrou de forma contundente a fragilidade estratégica da Europa e, sobretudo, a incapacidade das suas lideranças para enfrentar crises de forma coerente e eficaz. Desde 2022, 5,3 milhões de ucranianos entraram na União Europeia (Frontex, 2025), revelando não apenas a escala humana do conflito, mas também o desajustamento entre a dimensão dos desafios e a qualidade das respostas políticas. A UE continua refém de mecanismos decisórios lentos, de prioridades desalinhadas e de uma cultura de gestão que privilegia a burocracia sobre a estratégia. Uma combinação que tem evidenciado a falta de competência real das estruturas dirigentes europeias.

A política energética confirma este diagnóstico. Apesar de a UE ter reduzido a dependência do gás russo de 45% para 15–20% (Comissão Europeia, 2025), esta transição foi conduzida de forma improvisada, sem avaliação suficiente das consequências industriais. A substituição apressada do gás russo por gás natural liquefeito norte-americano, muito mais caro, acelerou a perda de competitividade de setores essenciais, como o químico e o automóvel alemão. Mais uma vez, decisões reativas, tecnicamente frágeis e politicamente mal pensadas ilustram uma liderança europeia que parece incapaz de pensar em termos de autonomia estratégica real.

Do lado norte-americano, a instabilidade democrática apenas agrava esta dependência. Cerca de 53% dos cidadãos acreditam que a democracia dos EUA funciona mal, apenas 22% confiam no Governo e 67% veem o declínio democrático como ameaça crítica (Chicago Council, 2025). Mesmo perante um aliado debilitado, a UE continua a evitar assumir responsabilidades próprias, sinal de elites políticas que preferem a inércia à proatividade estratégica.

Enquanto isso, a China reforça-se como superpotência assertiva. Em 2025, representa 19,6% do PIB mundial em PPC (FMI, 2025), expandindo a sua influência económica e diplomática com uma clareza estratégica que contrasta fortemente com a hesitação europeia. Pequim não se limita a competir; redefine o tabuleiro global com ambição e consistência — precisamente o que falta aos dirigentes europeus.

A Europa encontra-se, portanto, num ponto de ruptura. Ou assume, finalmente uma liderança tecnicamente competente, capaz de integrar políticas de defesa, energia e relações externas, ou continuará a caminhar para a irrelevância. A guerra na Ucrânia tornou evidente que a segurança do continente não pode depender de dirigentes que confundem gestão com visão e que reagem às crises sem compreender a sua profundidade histórica. A questão decisiva é simples: poderá a Europa reformar a sua própria liderança antes que o mundo avance, definitivamente, sem ela?

Texto escrito segundo as regras do Novo Acordo Ortográfico de 1990