Opinião

Letras | Gramática da Fantasia - Liberdade para ler o mundo

11 abr 2021 20:00

Nos últimos dois meses, ainda que nem sempre à velocidade que gostaria, tenho andado a ler, a reler ou a fazer-me acompanhar por alguns livros

Estava para vos contar que são três, mas talvez sejam quatro ou se pensar bem talvez oito… (estou a sorrir), mas não alguns deles ainda não li de fio a pavio, vão-me acompanhando e vou-os lendo, ora sozinha, ora acompanhada, seja pelos meus filhos seja pelas turmas onde vou passando, seja por encontros mesmo que virtuais destas partilhas.

Abril é o mês dos livros e desde que nasci que o conheci como o mês da liberdade.

Gosto de ler quando me apetece e também gostaria de ler sempre que me apetece o que nem sempre acontece (sorrio outra vez)… às vezes os miúdos dizem que falo a rimar…deve ser porque fico feliz quando leio, e partilho e sinto que gostam do que trago para contar, gosto de partilhar os meus livros e os dos outros, mais os dos outros até, ( lá estou eu a sorrir)… gosto de espoletar momentos de partilha…de arranjar pretextos para estarmos juntos e se forem os livros ou as outras artes tanto melhor.

Um dos livros que me têm acompanhado mais por estes dias chama-se Ler o Mundo, da Michelle Petit, publicado em Portugal pela Faktoria K de Livros, que é o mesmo que dizer Kalandraka.

Um livro que fala do prazer de ler, dos seus benefícios, sendo como que um manifesto, uma apologia da importância da literatura oral ou escrita na vida das crianças e dos adolescentes.

Surge de uma indignação constante com que se prendem artistas, mediadores, e profissionais das artes ou das letras duma necessidade constante de mostrarem o seu valor e os impactos positivos do seu trabalho.

Ler ou ouvir ler ajuda-nos a encontrar o foco, estimula a criatividade a imaginação e promove a desaceleração em bom como eu costumo dizer. Também a autora diz que “as bibliotecas são espaços de desaceleração”, e cita Pep Bruno, quando afirma que “ler ou estar na companhia de um livro serve para encontrar um outro tempo (…) interromper a continuidade do barulho e permitir que o silêncio reapareça.

A experiência vai-me também sussurrando que miúdos e graúdos gostam de ouvir ler, com entoação, com prazer, com expressividade, principalmente os miúdos…e que este prazer pode vir a ser contagiante e espoletador de vontades e curiosidades… e que cria empatia e que aproxima pessoas…

Este é também o papel do mediador, fazer germinar sementes não só em terra fértil, mas também onde esta ainda precisará de mais composto para brotar e criar hortas felizes, que se traduzam em colheitas frutíferas.

Lê-se no livro uma ideia de Henry Miller, que lembra que as coisas podem perder todo o seu valor, todo o encanto, toda a sedução, se nos arrastam pelos cabelos para as admirar e é por isso que é tão importante criar nestes momentos de partilha, espaços em que cada um é livre de ser como é… de dizer o que pensa, o que sente, de ser-se a si sem filtros nem julgamentos.

E como abril é o mês dos livros e o mês da liberdade convido-vos a encontrar os direitos inalienáveis do leitor no já velhinho, mas sempre atual Como Um Romance, de Daniel Pennac, e se vos apetecer leiam muito não importa o quê, ouçam ler, ou não o façam se não tirarem daí nenhum prazer…

Bom Abril para todos e para todas!

Texto escrito segundo as regras do Acordo Ortográfico de 1990