Opinião

Marketeer a dias | "Oh dear”, isto de ser Marketeer!

10 jan 2023 16:45

Independentemente dos atributos e benefícios do produto, do preço que pagaste ou negociaste por ele, de como ele chegou até ti ou por que meio ficaste a conhecê-lo, importa como se deu o “clique” que te levou à compra

Se tivesse nascido numa tenda de circo, dizia-vos já de caras: o meu destino era ser malabarista.

A minha estranha relação com as alturas, mesmo de boldrié a tiracolo ou rede abaixo dos pés, faz-me lembrar o quão duras têm sido as quedas (flops) de grandes marcas. E de pessoas como nós, feitas de carne e osso. O meu corpo de bailarina “nas horas vagas" - agora remetida a um pezito de dança, aqui e ali, enquanto me arrumo a mim ou à casa - é a prova viva de que apenas dançamos bem a música que genuinamente gostamos, e não a que os outros gostam. O contorcionismo é para quem treina desde tenra infância. Não é o meu caso. Domar feras? Só quando não tenho hipótese de fuga. Palhaça? Sempre! Mas na esfera privada. E o ilusionismo? Até que me intriga, mas não passa disso mesmo: ilusão. Daí ser tão simples, para mim, optar pela arte do malabarismo. Não na tenda de circo, mas na arena do marketing.

Ainda estás a acompanhar? Então faz esta viagem comigo: planeias fazer a tua primeira roadtrip pela Europa, nas próximas férias. Vais com a tua nova namorada e estás indeciso quanto à viatura a comprar. Não fosses tu o típico “tuga - contador de trocos” nato. Mas adiante.

Numa mão tens, por exemplo, um Corsa, que compras com uma perna às costas. Vais e voltas sem uma avaria. Sem que te abram o carro para roubar pertences, uma voltinha “extra" ou um assalto com ele. Nada! Chegas são e salvo e, apesar de não teres surpreendido a miúda, também não a desiludiste. É provável que te sintas“estupidamente" bem! Tipo “o Ken” da Cindy - que a Barbie nunca alinharia numa viagem de Corsa, claro - mas ainda assim, “o Ken”! Porquê? Porque o pouco que investiste é tão ao nível das tuas baixas expetativas face ao produto adquirido, que o simples facto de ter corrido tudo sobre rodas é, per si, sinónimo de SATISFAÇÃO.

Agora a outra mão. Nela tens, por exemplo, um SUV elétrico, novinho em folha, de última geração. Gastas todas as tuas economias, até ao último “tusto”, para que seja teu. Ou pior: contratualizas um empréstimo automóvel - juros para “tolos”, mas não faz mal porque tu também te sentes assim-assim e, por isso, aguentas firme. Afinal, a tua “Barbie” (a Cindy também) vai adorar o teu “ego de quatro rodas”, a firmeza dos baquets e o blend de aromas “pele-plástico novo”. Chegam as férias. Está tudo a correr tão bem, até que o carro - modelo novo e pouco testado - avaria. Ou então foste tu que calculaste mal o trajeto, ou fizeste um ligeiro desvio, e o carro ameaça ficar sem autonomia antes da próxima pitstop. Amigo, estás metido em sarilhos! Começas a ver a tua vida pelo retrovisor. Choras cada cêntimo que esbanjaste. Já para não falar da “Barbie” e na minha genética, que me faz adivinhar o teu destino: “já foste de patins”. E tu, em vez da tão esperada satisfação, sentes FRUSTRAÇÃO.

Agora que a “viagem” terminou, chegamos ao meu destino: se a gestão de marketing não é malabarismo - ser equilibrista, acreditem, não chega! - então preparem-se para um fraco espetáculo. Porque é preciso dominar, com perícia e persistência, cinco variáveis: os famosos “Cinco P´s” do Marketing. Chamemos-lhe “malabares”, se vos for mais fácil seguir a analogia: o Produto (e todos os seus atributos); o Preço (difícil de falar e, ainda mais, definir); a Promoção (essencialmente, a comunicação); o Placement (isto é, a distribuição, ou como fazer chegar o produto ao mercado); e o último, e mais importante: as Pessoas.

Independentemente dos atributos e benefícios do produto, do preço que pagaste ou negociaste por ele, de como ele chegou até ti ou por que meio ficaste a conhecê-lo, importa como se deu o “clique” que te levou à compra. E, depois da compra, importa apurar o que esta te trouxe, enquanto ser humano: satisfação ou frustração? Sentimentos que todos nós, Pessoas, acabamos por experimentar ao longo da vida, e que o Marketing não controla. Mas que ajuda a servir, acima das expetativas.