Opinião

Música | Comecemos este ano com um bom Plano

25 jan 2020 20:00

Nascido em 1985 na cidade de Rosario, na Argentina, seria quase de prever que Sebastian Plano viesse a traçar um caminho enquanto músico ou não tivessem os seus pais (e também o seu avô) já uma longa tradição familiar enquanto instrumentistas, com quatro décadas de trabalho à frente da Orquestra Sinfónica daquela cidade.

O pai e a irmã são violinistas e a mãe violetista.

Ainda assim, é algo romântico o derradeiro despertar do agora internacionalmente aplaudido compositor e violoncelista Sebastian Plano, pois embora já escrevesse música desde os seus 12 anos, houve períodos até à adolescência em que pura e simplesmente perdia o interesse pela composição.

Curiosamente, Plano conta-nos que ao entrar na adolescência foi assistir ao Concerto para Violoncelo N.º1 para Dó Maior, de Joseph Haydn e, durante o seu segundo movimento, algo aconteceu que o fez - logo na manhã seguinte! -, pôr mãos na partitura e começar a praticar aquela obra.

Dali, pouco demorou a prosseguir afincadamente os seus estudos clássicos embora nunca neles estivesse aprisionado o seu gosto musical que desde cedo se revelara bastante ecléctico.



Outro ponto de viragem no seu percurso enquanto jovem compositor viria a ser a banda sonora da série Cosmos, de Carl Sagan, com temas do grego autodidacta Vangelis (nome artístico), bem conhecido pelos seus contributos na área da música electrónica.

Destemidamente, darei agora um salto cronológico bem significativo dado todo o trabalho inestimável que Plano tem produzido até ao ano que passou (incluindo colaborações com o violoncelista Jeffrey Zeigler, antigo membro dos Kronos Quartet), destacando o seu último e terceiro registo de estúdio – o álbum de longa-duração Verve, de 2019, com edição da Mercury KX.

Recentemente baseado em Berlim, depois de uma temporada em São Francisco, Plano construiu paulatinamente este álbum no seu piano electro-acústico Yamaha CP80, dizendo que este se tornou o seu piano de eleição assim que, numa loja de música, nele tocou um primeiro acorde; não me surpreende este súbito fascínio por um instrumento em particular quando nele se reconhece aquele timbre tão especial para nós.

Destilado a partir de arranjos vocais etéreos e quase celestiais, por entre breves excertos de pianos perdidos em camas de aconchego electrónico, em Verve, o ouvinte sentir-se-á inebriado por uma calma instigadora da pior das procrastinações, entrando-se num modo de profunda contemplação.

Diga-se, vertiginosamente perto do clássico Says, de Nils Frahm.

No início deste ano, Plano tem já algumas datas agendadas para concertos um pouco pela Europa, embora ainda nenhuma para Portugal.

Espero que a audição do seu trabalho, caso ainda não o conheçam, vos leve a ponderar em vê-lo actuar quando tal de proporcionar!

Desejo-vos a todos um belíssimo ano de 2020!"