Editorial
Não dá para entender...
Se dentro das paredes do hospital os desafios para Licínio Carvalho, sucessor de Helder Roque, serão enormes, o exterior pede também uma intervenção urgente,
São por todos conhecidos os problemas que o crescimento do Centro Hospitalar de Leiria (CHL) trouxeram com a inclusão dos hospitais de Pombal e Alcobaça, mas principalmente com a decisão política de passar a ser a unidade de referência para a população de Ourém.
Ao que parece, muitas das promessas feitas pela tutela para que o CHL recebesse Ourém ficaram por cumprir, acabando por anular boa parte das vantagens que uma maior escala e a sua afirmação como hospital de referência entre Coimbra e Lisboa poderiam trazer.
O serviço de urgências entupido é a face mais visível do problema, mas Helder Roque, que entretanto renunciou ao cargo, nunca escondeu o descontentamento pela reduzida atribuição de vagas para mais médicos, que pudessem colmatar as necessidades criadas pelo alargamento da área de abrangência do CHL.
Se dentro das paredes do hospital os desafios para Licínio Carvalho, sucessor de Helder Roque, serão enormes, o exterior pede também uma intervenção urgente, pois o parque de estacionamento passou a ser manifestamente insuficiente para o número de pessoas que ali se dirigem.
Obviamente que este é um problema menor se comparado, por exemplo, com o do serviço de urgências, mas o inferno por que passa quem ali tenta estacionar, muitas vezes pessoas doentes e frágeis, não pode, de todo, ser descurado.
Olhando para o histórico dos últimos anos do CHL, a administração agora liderada por Licínio de Carvalho tem toda a legitimidade para exigir da tutela uma solução para este problema que tantos constrangimentos traz aos utentes, luta da qual não se podem colocar de fora todos os presidentes de Câmara da sua área de abrangência, sejam de que partido forem.
Faz hoje dois anos que foi conhecida a proposta vencedora do concurso de ideias para o pavilhão multiusos, que terá o nome de Centro de Actividades Municipal de Leiria e que Raul Castro nunca escondeu querer deixar como a grande marca do seu ‘reinado’.
Passado este período, no entanto, o início da obra parece não estar para breve, pois o concurso para a empreitada ainda nem sequer foi aberto.
Da autarquia, onde Raul Castro já não ocupa a ‘cadeira real’, a justificação para o que parece ser um impasse surge na forma da necessidade de “analisar cuidadosamente, em múltiplas vertentes, as complexas especificidades de um projecto desta natureza, tendo em conta a sua dimensão e impacto, quer na vertente técnica quer na estimativa de custos”.
Ou seja, “o processo encontra-se em análise”.
Tudo certo, então. Se essa análise não foi efectuada, o melhor é que se faça antes de a obra estar de pé, não vá Leiria ficar com um par de elefantes brancos, pois um já lhe chega bem.
O estranho é estarmos nesta fase, em que já se gastaram uns largos milhares de euros no projecto, sem que a tal análise tenha sido realizada, sem que tenha sido elaborado um rigoroso estudo económico e de ocupação do equipamento.
Se assim for, teremos de concluir que a Câmara começou a andar antes de calçar as botas e que o impacto que o pavilhão multiusos terá no concelho é uma incógnita, tanto podendo vir a ser um pólo importante de desenvolvimento como também mais um cancro.
Até parece que se está a falar de ‘trocos’…