Opinião

O Rossio de Leiria

3 dez 2022 11:20

Hoje as actividades próprias do rossio – os mercados, a feira, o circo, os eventos e estacionamento – realizam-se na zona do estádio

Um rossio - como o dicionário indica – é “um terreno vazio, fruído em comum pelos habitantes de uma povoação”.

Os rossios servem para eventos temporários como os mercados, a feira, o circo, concertos, exposições e outros.

A ocupação destes vazios urbanos por construções é normalmente evitada devido à sua localização em leitos de cheia de rios, que se mantêm secos fora da época das chuvas mas ficam submersos durante parte do Inverno.

Um exemplo curioso encontra-se na aldeia das Fontes do Lis. Durante o Verão, o rio fica reduzido a um fio de água e são colocados estrados de madeira a cobrir o leito para criar um pequeno rossio onde se realizam as festas anuais da terra.

Em Leiria, com a pacificação do território a partir de 1147, o povoado desceu da muralha protectora do Castelo mas deteve-se no vale perante o leito de cheia do rio Lis, o que deu lugar à criação de um rossio, que se situava entre a praça Rodrigues Lobo e o rio, onde se fazia o mercado da cidade.

Em 1701 foi construído o marachão para conter o Lis dentro do leito actual. Com o marachão o rossio deixou de ficar submerso no Inverno e com o tempo foi sendo ocupado pela cidade. Fez-se o jardim público (que hoje se designa Luís de Camões), o arruamento em frente ao banco de Portugal, o teatro Dona Maria (já demolido), o passeio público sobre o marachão e a fonte luminosa.

A partir de 1950 começaram até a surgir edifícios na margem do rio relegando-o para as traseiras da cidade - como refere a urbanista Ana Bonifácio. Primeiro construiu-se o edifício do Turismo e depois o terminal rodoviário, o cinema e vários prédios de habitação. A partir de 1950 o desinteresse pelo rio Lis dentro da cidade era tal que chegou a haver propostas para encaná-lo e construirlhe uma estrada por cima.

Só em 2006, com a construção do Polis, se voltou a conseguir integrar o Lis e as suas margens em alguns pontos da cidade de Leiria. Hoje as actividades próprias do rossio – os mercados, a feira, o circo, os eventos e estacionamento – realizam-se na zona do estádio.

Infelizmente esta zona não tem o mínimo de qualidade urbana necessária a uma cidade desde que em 2004 “aterrou” ali um estádio desmesurado rodeado por um deserto de alcatrão sem consideração pelo rio Lis ou pelo castelo de Leiria.

É por isso de interesse para a cidade transformar toda a zona do estádio para integrar os equipamentos, as margens do Lis e construir um belo rossio à beira-rio digno de ser “fruído em comum pelos habitantes” e visitantes de Leiria.