Editorial

Os novos vizinhos

15 ago 2024 08:11

Há quem sinta cada vez mais aversão à presença de estrangeiros nas suas comunidades

Esta semana celebra-se em Portugal, por iniciativa da Igreja Católica, a Semana Nacional da Migrações. Originalmente, a iniciativa tinha como destinatários principais os nossos emigrantes, sobretudo aqueles que, em visita de férias ao país natal, não dispensavam uma deslocação ao Santuário de Fátima, durante a peregrinação aniversária de Agosto.

Nos dias de hoje, os nossos compatriotas que lutam por um futuro melhor além-fronteiras continuam a ser lembrados, mas já não são propriamente os únicos protagonistas da celebração. O paradigma das migrações mudou significativamente, com o aumento dos fluxos migratórios provocados pela guerra, pelo terrorismo ou por questões religiosas.

O fenómeno, como recordou esta terça-feira o bispo de Coimbra, D. Virgílio Antunes, já não pode ser encarado como uma realidade desconhecida e longínqua. Está cada vez mais próximo, pela experiência pessoal e directa.

“Temos vizinhos que são refugiados e exilados, trabalhamos com eles, encontramo-nos com eles nos mesmos bancos das igrejas e nas mesmas enfermarias dos hospitais, as crianças sentam-se às mesmas carteiras das salas de aula e brincam nos mesmos recreios das escolas”, afirmou o prelado, lembrando que para a Igreja Católica “não há estrangeiros, mas somente homens e mulheres que caminham sobre esta terra”.

Lamentavelmente, nem todos partilham desta ideologia. Mas, pior do que isso, é verificar que há quem sinta cada vez mais aversão à presença de estrangeiros nas suas comunidades, muitas vezes por falta de comunicação com os novos vizinhos, outras por influência de instrumentalizações partidárias ou de falsas informações, disseminadas em ambiente digital com o único propósito de promover a divisão, a discriminação e o discurso de ódio.

Isto num país que continua a exportar trabalhadores jovens e tem cerca de três milhões de conterrâneos espalhados pelos quatro cantos do mundo.