Opinião
Plano de Recuperação e Resiliência
E o que podemos observar no Programa de Recuperação e Resiliência entretanto apresentado? Um ajuste de contas do Governo do PS com o passado recente da gerigonça,
Muitas vezes fomos chamados a perceber que a concretização de alguns investimentos, muitos deles relevantes e estruturantes para a nossa região, mas também para o nosso País, não era possível pela manifesta falta de recursos financeiros por parte das entidades públicas responsáveis.
Claro, podem sempre questionar-se as opções que, a todo o momento, se foram tomando, mas em muitos casos essa decisão derivava da escolha democrática, que legitima os governos, sejam nacionais ou locais, tendo sempre os eleitores a possibilidade de demonstrar a sua avaliação no acto eleitoral seguinte.
No mês de Março de 2020 foi o Mundo confrontado com uma realidade que muitos de nós julgaríamos ser só possível num filme de ficção científica, com confinamento global e limitação de circulação para tentar conter as consequências, drásticas, da Covid-19.
Se recordarmos as análises iniciais, poucos auguravam que este ambiente se prolongasse por tanto tempo e com recaídas fortes, como infelizmente constatámos no início deste ano em Portugal e, ainda agora, em vários países da Europa.
Se tantas vezes faltou um denominador comum para que a União Europeia funcionasse como um bloco coeso e solidário, depois de algumas divergências, foi possível chegar ao entendimento da necessidade premente de encontrar forma de auxílio financeiro para os vários países. Ou seja, vamos poder beneficiar de uma ajuda financeira extraordinária da União Europeia, cerca de 14 mil milhões de euros, como nunca houve, julgando que seria possível resolver alguns daqueles investimentos estruturantes de que vos falava no início deste artigo.
E o que podemos observar no Programa de Recuperação e Resiliência entretanto apresentado?
Um ajuste de contas do Governo do PS com o passado recente da gerigonça, onde teve que ceder aos partidos de esquerda, para garantir a governação de quem não ganhou eleições, designadamente através das sucessivas cativações, que suspenderam sobremaneira os investimentos necessários em Portugal, em detrimento do aumento gritante da despesa corrente.
Isto quer dizer que grande parte do dinheiro que nos vai chegar através da bazuca vai ser direccionado para investimento público que deveria constar nos sucessivos Orçamentos de Estado e, ainda por cima, deixando de fora muitos projectos regionais, acentuando-se a visão centralista do País.
Mais uma vez a região de Leiria foi penalizada, sendo preocupante o silêncio de tantos que, espero, não seja a resignação às directrizes político-partidárias em detrimento da defesa dos superiores interesses do nosso distrito.
Continuamos sem ver resolvida a construção da ETES do Lis, do troço do IC8 entre Pombal e Avelar, da electrificação da linha do Oeste, entre Caldas da Rainha e Louriçal, a construção do nó de ligação do IC9 à A1, ou ainda a reflorestação que nunca mais acontece na Mata Nacional de Leiria, como ainda pude comprovar no passado domingo.
Que possamos estar atentos à utilização destes tantos mil milhões de euros que vão chegar a Portugal até 2030, a um ritmo de cerca de seis mil milhões por ano, esperando que o grupo de trabalho constituído pelo Presidente da República para monitorizar este processo não se coíba de intervir, sempre que necessário.