Desporto

A cultura “perfeita” industrializou-se e ser skater tornou-se uma tendência

21 nov 2020 09:00

Modalidade entra nos Jogos Olímpicos e marcas de nicho são agora universais

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É no novo skate park da cidade que os mais novos aprendem sob orientação de Rúben Pinto
Ricardo Graça

Sentamo-nos à conversa na praça Rodrigues Lobo à beira da Tribos Urbanas, a loja que é o covil dos skaters da cidade. Uma jovem muito jovem passa ao lado da mesa com umas sapatilhas pretas, cortadas por um risco branco, as famosas Vans.

Antes, a marca produzia streetwear para um grupo muito específico de consumidores, mas hoje está popularizada e é vestida e calçada em todo o mundo, seguindo as tendências universais. 

No fundo, como o próprio skate, que se massificou nos últimos anos. “É estranho, não é?” Há uns tempos, não havia muitos na cidade que se apresentassem como Rúben Pinto, de chapéu na cabeça e roupa preta larga.

“O skate formou a pessoa que sou hoje. A maneira de pensar, de vestir, vem de toda a vivência liberal deste mundo. Sou do tempo em que via um gajo com uns ténis de skate um bocado gastos de lado e ia logo falar com ele. Só podia ser skater. É a indústria a crescer. É bom, mas acho que fugiu do controlo.”

No fundo, deixou de ser um nicho e tornou-se popular. “O skate é a cultura perfeita, tirando agora a sua industrialização. Estas questões de ter passado para o programa dos Jogos Olímpicos e do profissionalismo são importantes. Existem profissionais há anos e anos, mas eram puros, andavam na rua. Hoje em dia são atletas e aquilo que idealizámos, agora não gostamos. E contradigo-me, porque foi para isso que trabalhámos, porque queríamos ser respeitados.”

“Tive uma turma com uns sete ou oito que tinham saído do futebol. Aquilo fez-me pensar. Também joguei à bola e sei como é”
Rúben Pinto

Rúben Pinto foi um dos que trabalhou para que Leiria tivesse um estatuto no mundo do skate. “No princípio do século apontavam-me o dedo, e eu falava educadamente para as pessoas, para perceberem que não éramos arruaceiros nenhuns, só temos um desporto diferente, mais nada.” Como ele, várias outras pessoas, lutaram para que o paradigma mudasse, mas a grande ajuda veio de fora. Por vários motivos.

Quando chegou à cidade tinha 10 anos, aprendia pelas “cassetes VHS que chegavam a Portugal já com a fita toda rebentada, cópias de cópias”. Para quem vinha de Lisboa, Leiria era “estranha”. “O shopping que havia era o D. Dinis e havia dois grupos de skaters que não se misturavam: uns andavam de dia e outros só à noite.” 

E também existia uma grande falta de material. “Na altura não havia nada do que queríamos, estávamos três anos atrasados. Partíamos tábuas todos os meses e tínhamos de ir comprar ao Casal Ventoso sem os nossos pais saberem.” 

Tudo mudou em 1999, com a chegada de Steve Carreira e a abertura da Tribos Urbanas, que se tornou num ícone. “Não é só pelo produto, é o que se faz. Mais do que material de skate, estou a vender uma história: fomos a primeira loja a lançar um filme, pela união que existia e pelo nível dos atletas.”

Loja Tribos Urbanas cumpre o papel de manter a comunica unida e activa (Foto: Ricardo Graça)

Talvez por isso, agora, aos miúdos, que aprendem a andar “muito rápido”, “nada falta”. Nas aulas que lecciona no novo skate park da cidade, já lhe aparecem alunos de todos os estratos sociais, até “tias de São Pedro”.

“Quando comecei, era só aquele miúdo com um pai muito à frente. Geralmente, era pessoal que tinha estado ligado ao skate. Agora vão como vão para outro desporto qualquer. Tive uma turma com uns sete ou oito que tinham saído do futebol. Aquilo fez-me pensar. Também joguei à bola e sei como é. É muito rígido e os pais não querem que o filho compita com o outro que joga na mesma posição. Aqui, não existe

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