Sociedade

Domingos Fernandes defende uma “escola mais humana”

4 set 2025 16:47

Presidente do Conselho Nacional de Educação participou na XVI edição do Fórum Educação

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Domingos Fernandes: Fazer a diferença pela inovação e com o foco nos alunos
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Elisabete Cruz com Cláudio Garcia

Currículo, pedagogia e avaliação. Os dominios que, segundo Domingos Fernandes, “fundamentam novas práticas” e “inovação” e através dos quais “talvez as escolas possam fazer a diferença”, numa perspectiva “de melhoria e transformação”. O presidente do Conselho Nacional de Educação e investigador no Instituto Universitário de Lisboa – ISCTE foi um dos oradores do XVI Fórum Educação, que se realizou hoje em Leiria, dirigido, essencialmente, a educadores e professores.

O responsável abordou matérias que “em geral as políticas públicas não tratam com a atenção que elas merecem”, mas que constituem a “base para que a escola seja mais humana” e “lide bem com a diversidade” e “com a ideia de combater as desigualdades”, revelou numa conversa antecipada com o JORNAL DE LEIRIA. Desde logo, o currículo e o seu desenvolvimento. “Vê-lo como algo que nos interpela, como algo que nos desafia, como algo que se constrói e se reconstrói, que nos obriga a pensar, a reflectir”, aponta Domingos Fernandes.

“Feito com os alunos e para os alunos”, é um “empreendimento humano” que “tem a ver com a vida”. Depois, a pedagogia. “É o eixo central da actividade de um professor” porque “é através da pedagogia que ele partilha o conhecimento de uma forma que seja inteligível para os alunos” e “é através da pedagogia que se organiza o ensino”.

O especialista defende uma “pedagogia do diálogo”, “do projecto” e “socialmente mais justa”, indispensável “nos tempos que correm” para “a escola ter o papel que lhe compete”, de preparar os estudantes para um mundo “mais complexo”.

Por fim, a avaliação, questão “absolutamente incontornável, acerca da qual existem um conjunto de mal entendidos” e “problemas conceptuais”, argumenta Domingos Fernandes. “Evoluiu muito no sentido de ser considerada um processo eminentemente pedagógico cujo principal propósito é ajudar os alunos a aprenderem melhor e os professores a ensinarem melhor”.

Ou seja, “tornar os alunos conscientes em cada momento acerca daquilo que é importante aprenderem” e “do seu estado em relação às aprendizagens”, mas, também, “tornar os alunos conscientes acerca dos esforços que têm de fazer e das estratégias que têm de utilizar, para melhorar”. 

Domingos Fernandes sublinhou hoje que o foco deve estar no aluno e não no professor. "Os alunos têm de ter o protagonismo. O foco não é no ensino, mas nas aprendizagens. Não é para classificar, mas para aprender."

Os desafios da escola

Ser exigente, protectora e emancipadora são os três desafios da escola dos dias de hoje, defendeu Cristina Oliveira. A delegada regional de Educação afirmou que a “escola promove as aprendizagens e o ensino” e deve ser exigente com “cada um dos profissionais”, cujo papel de cada um deve ser a “valorização da profissão de forma a passar uma imagem de credibilização da escola”.

Cristina Oliveira considerou que são precisas mudanças nas práticas pedagógicas e saber lidar com a inteligência artificial, fazendo um caminho mais confortável. O objectivo será diminuir o desfasamento entre alunos e professores, no que se refere a esta ferramenta tecnológica.

Salientando o papel “fundamental do pessoal não docente”, onde se incluem os técnicos, Cristina Oliveira destacou ainda o ensino profissional, que cerca de quatro décadas depois “ainda continua a ser olhado com desdém”.

“O ensino profissional é essencial aos jovens, ao futuro do País e ao nosso tecido empresarial. Deve, por isso, também ser exigente.”

A escola deve ser protectora, porque precisa de garantir segurança e bem-estar para os alunos. Abordando a proibição dos smartphones nas escolas, a directora regional considerou que esta medida polémica vai proteger os alunos, sobretudo, da desinformação. Além disso, irá desenvolver o convívio, a conversa entre todos e desenvolver competências sociais.

Sem directores de turma

Para Cristina Oliveira, é também importante a igualdade entre rapazes e raparigas, deixando cair ideias preconcebidas de algumas profissões. Pode haver educadores de infância, como engenheiras mecânicas. “Se queremos uma escola emancipada temos de promover a igualdade social, criando condições para que o território promova a igualdade entre alunos, para que todos estejam ao mesmo nível.”

Presente também no Fórum Educação, o presidente do Conselho de Escolas, António Castel-Branco revelou que no seu agrupamento, em Sintra, faz questão de ouvir toda a comunidade escolar e pôr fim aos directores de turma. “Pergunto sempre: o que podemos fazer melhor? O que querem os alunos das aulas? Criei a figura das equipas educativas e cada equipa tem um coordenador. Há grupos de alunos em salas contíguas e pode haver num lado 14 alunos e noutro 30”, contou.

O objectivo é ir ao encontro das aprendizagens de todos. “Mudámos a avaliação e não há fiscalização. A nossa principal tarefa é responder às pretensões dos alunos.”

“A escola é um lugar de compromissos e temos de ser agentes de mudanças, através do diálogo, algo que se está a perder”, lamentou Ana Maria Moniz, professora do ensino especial do Agrupamento de Escolas Fernão Pó, no Bombarral.

Gonçalo Lopes destacou que o Fórum deste ano “tem um significado especial”, porque o projecto educativo da Câmara de Leiria, cuja duração coincide com o mandato autárquico, “foi o fio condutor de uma estratégia assente em três pilares fundamentais: colaboração, proximidade e trabalho em rede”.

Reconhecendo que os edifícios são importantes,o presidente do Município de Leiria afirmou que o que “transforma verdadeiramente a vida das crianças é a dimensão humana da educação”.

E aqui, o “professor tem um poder extraordinário: o de descobrir talentos escondidos, de despertar vocações, de dar confiança às nossas crianças para que encontrem o seu caminho”.

“Nesta sala estão, literalmente, os construtores do futuro – aqueles que, todos os dias, moldam a próxima geração de cidadãos de Leiria e de Portugal.”