Sociedade
Fátima recorda Papa que canonizou os Pastorinhos
Um dos momentos marcantes da visita que Francisco fez ao Santuário em 2017 aconteceu quando pôs em silêncio a multidão durante os oito minutos de oração que fez na Capelinha das Aparições

Soube que ia ser nomeado bispo num 13 de Maio, data simbólica para os católicos portugueses. E foi, precisamente, nesse dia e mês, que presidiu à canonização de Francisco e Jacinta Marto, dois dos três pastorinhos de Fátima, numa cerimónia realizada em 2017, por ocasião do Centenário das Aparições, que o trouxe, pela primeira vez, à Cova da Iria.
Essa visita do Papa Francisco ao Santuário, onde voltou em 2023 por ocasião da Jornada Mundial da Juventude, ficou também marcada por um momento simbólico quando, à chegada, rezou em silêncio diante a imagem de Nossa Senhora, na Capelinha das Aparições. Foram oito minutos de oração silenciosa, uma atitude repetida pela multidão de centenas de milhares de pessoas presentes no recinto.
Francisco morreu, na segunda-feira, aos 88 anos, e é lembrado na região pelo seu humanismo, pela defesa dos mais pobres, dos migrantes e dos excluídos – as periferias da sociedade às quais tantas vez se referiu durante os seus 12 anos de pontificado -, mas também pelos apelos insistentes à paz e ao cuidar da Casa Comum.
Recordando as duas visitas à Cova da Iria, o reitor do Santuário de Fátima destaca a preocupação pela paz e pelo ambiente do Papa, que “não teve medo de rasgar novos horizontes” e de deixar à Igreja, como herança, “caminhos de renovação”.
Carlos Cabecinhas assinala ainda a proximidade de Francisco com as pessoas, referindo, a título de exemplo, o gesto que teve na primeira visita a Fátima, quando, “ao descer o recinto de oração, saiu do papamóvel para percorrer parte do percurso” junto dos peregrinos.
“Gostava de estar próximo das pessoas, procurava esse contacto e creio que esse é também um dos legados que nos deixa, nomeadamente com este pedido de que a Igreja seja cada vez mais próxima do povo de Deus, que a Igreja seja cada vez mais próxima de todos aqueles que nos procuram”, assinala o sacerdote.
Neste momento marcado “pela dor da separação”, o bispo de Leiria- Fátima salienta a importância do pontificado de Francisco, pela forma “simples, humilde e próxima” como viveu o seu ministério, mas também pelo caminho de reflexão que abriu dentro da própria Igreja.
“Não procurou respostas fáceis nem soluções imediatas, mas lançou a Igreja num dinamismo de escuta, discernimento e conversão”, afirma José Ornelas, considerando que “o caminho sinodal que promoveu “é expressão clara” desta visão. “Não se trata, como ele próprio afirmou, de um discurso sobre a Igreja, mas de um caminho da Igreja e em Igreja, que faz parte da sua missão”, destaca o bispo, salientando: “o Papa ajudou- -nos a reencontrar a esperança”.
Já o cardeal António Marto, bispo emérito de Leiria-Fátima, realça o estilo de proximidade a todos e de compaixão por todos e recorda que Francisco teve “as palavras mais pungentes e urgentes para a defesa dos migrantes”.
“Foi um estilo de proximidade a todos, de ternura, usou a linguagem da ternura, e de compaixão para com todos e, por isso, tocava o coração de todos. Com o seu estilo, deixou-nos a imagem de Igreja e deixou uma mensagem para a humanidade”, afirmou o cardeal à agência Lusa.
No voto de pesar aprovado em reunião de executivo, a Câmara de Ourém destaca o “humanismo” de Francisco, recordado como “o Papa dos pobres” na nota de pesar do Município de Leiria.