Economia
Fluxe Software criou solução para pára-brisas movida a Inteligência Artificial
Garantir o melhor serviço, evitar a fraude a companhias de seguros e ajudar os proprietários de automóveis ou clientes de rent-a-car nas tarefas de manutenção e aluguer de viaturas são possibilidades do software desta empresa
A Fluxe Software é uma startup que criou uma solução para o ramo automóvel baseada em Inteligência Artificial, que resulta da experiência, de década e meia, de um dos co-fundadores, João Alves, no mundo dos seguros.
“As nossas tecnologias são disruptivas e temos produtos um bocadinho fora da caixa. O nosso core principal é o nosso algoritmo de inteligência artificial para detectar danos em pára-brisas. A nossa tecnologia permite às seguradoras verificarem, quando é feita a activação do seguro se o vidro está danificado ou não.”
Actualmente, a Fluxe pertence à comunidade da Startup Leiria.
Criada em 2019, teve um início marcado pela pandemia da Covid-19, que acabou por permitir a maturação da ideia de negócio.
Houve tempo para desenvolver, mas não para fazer negócios, porque, afinal, com o confinamento, os carros não circulavam.
“Não havia acidentes, não havia sinistros. Acabámos por ganhar tracção no ano passado, e estamos a auditar prestadores de vidros, ou seja, centros técnicos que fazem a substituição de vidros de automóveis, como a Glass Drive, a Carglass, a Express Glass e a New Car”, conta João Alves, que tem como co-fundador e parceiro nesta “aventura”, Nuno Órfão.
Desde Agosto de 2022, que a empresa tem o seu Fluxe Insurance Software implementado em 350 centros em Portugal Continental e Ilhas.
“Auditamos os processos de quebra de vidros nesses prestadores. A nossa solução assenta em dois estados; o Check-in e o Check-out e a seguradora, através da nossa solução, obtém a validação de que realmente o pára-brisas foi substituído.”
O fundador da startup explica que, quando um veículo entra no centro para substituir o vidro, os prestadores têm de, no âmbito do Check-in, de tirar fotografias devidamente padronizadas, através das máscaras de auxílio da plataforma da Fluxe: uma diagonal esquerda, direita, uma frontal e uma panorâmica ao veículo.
“Isto serve, igualmente, para despistar a fraude. O Check-in comprova que o pára-brisas está, efectivamente, danificado. A Inteligência Artificial marca o ponto onde se verifica o dano e, depois, é substituído o pára-brisas; o Check-out.”
O prestador repete o mesmo procedimento do Check-in e a empresa entrega à asseguradora o comprovativo de que, realmente, o componente estava danificado e que foi substituído.
Esta tecnologia está a abrir portas à Fluxe e a permitir-lhe entrar em contacto com outras seguradoras, com vista à criação de novas soluções. E já há frutos deste trabalho.
Brevemente, a empresa vai lançar um novo produto que valida o sistema ADAS (Advanced Driver Assistance Systems), que também está instalado no pára-brisas.
“É completamente disruptivo e ainda não existe no mercado. Neste momento, estamos na ronda final de investimento. Tenho 15 anos de experiência no mercado segurador, num departamento de sinistros, e estas soluções nascem dessa experiência, e conhecimento do funcionamento das seguradoras. Tentei criar algo que as ajudasse em algumas lacunas”, conta João Alves,47 anos, formado em Engenharia Automóvel, pelo Instituto Politécnico de Leiria.
A Fluxe Software, que tem como participada a empresa de tecnologia de Leiria Void Software, fornecedora no desenvolvimento da parte principal do algoritmo na fase inicial de criação da aplicação, inicia agora a primeira ronda de seed.
“Na ronda que vamos fazer agora, a Void vai reforçar o capital e vamos ter a entrada de dois novos investidores, um fundo e uma empresa que é investida também por uma empresa de assistência em viagens, que é a quarta maior a nível europeu. Isto ir-nos-á permitir alavancar mais rapidamente as nossas tecnologias”, prevê João Alves.
As soluções criadas pela Fluxe têm ainda a potencialidade de serem aplicadas noutras áreas.
“Começámos com a Inteligência Artificial no pára-brisas, pois, no nosso entendimento era a parte mais difícil de trabalhar no veículo, porque é uma peça transparente, com reflexos, muita sujidade e vê-se o interior do automóvel.”
O passo seguinte é o alargamento da aplicação do algoritmo para identificar danos em toda a carroçaria do veículo, o que, acredita, irá alargar o leque de intervenção da empresa no mercado, e, mais concretamente, no segmento de rent-a-car.
Por exemplo, quando é feito um seguro contra danos, com a tecnologia da Fluxe, é possível para a seguradora ter acesso ao estado real do veículo que vai segurar, e se houver danos, estes estarão devidamente sinalizados.
“No rent-a-car, o objectivo é fornecer uma ferramenta que permitirá, também, fazer um Check-in e Check-out. Quando se faz o levantamento do carro, há uma recolha visual das características do veículo e, quando o cliente o entrega, há nova inspecção e o algoritmo irá informar se o carro tem ou não mais danos”, explica.
Terminar com a necessidade do papel e da inspecção visual por um colaborador, tornará, segundo a visão da tecnológica de Leiria, este modelo de negócio mais digital, mais flexível, mais rápido e, principalmente, mais transparente.
“Se eu levantar um carro e receber no email um relatório do seu estado, antes, e, quando o for entregar receber outro, é transparente, tanto para as empresas de rent-a-car, como para o cliente.”
João Alves pensa já em estender as soluções Fluxe Insurance Software a mercados europeus.
Afinal, o funcionamento é exactamente o mesmo.
“Inequivocamente, 2024 vai ser o ano da Fluxe. O vidro e o pára-brisas do veículo, serão um problema cada vez mais complexo para as seguradoras”, prevê o co-fundador, que adianta que se trata de uma parte que é cada vez mais cara e que, com a instalação de mais tecnologia inteligente, contará com mais e mais sensores e câmaras.
“Perceber isto, fez com que tivesse a ideia para a ferramenta para detectar danos em pára-brisas. Partilhei com o Nuno Órfão, que tem muita experiência empresarial, as minhas ideias. Ele analisou-as, achou que, também para ele, fazia sentido, apesar de ser completamente fora do seu core business e conhecimento profissional, mas ele acreditou em mim, acreditou no projecto e começámos a desenvolver tudo, até então, com capitais próprios. A Void, também acreditou, inequivocamente, desde o primeiro dia em que fui apresentar umas folhas A4 ao João Mota e ao Marco Cova”, recorda.