Desporto
O exemplo de Sara, com a certeza de que nunca é tarde para começar
Professora de Leiria vai defender as cores portuguesas no Campeonato do Mundo de Trail Run, competição que arranca às cinco da manhã deste sábado, no Parque Natural da Peneda-Gerês.
Quando, aos 40 anos, começou a dar umas corridas no percurso Polis, Sara de Brito não imaginava que ainda ia a tempo de se tornar numa atleta de referência. A vida dá muitas voltas, é bem verdade, e em seis anos a atleta do Clube de Atletismo da Barreira tornou- se numa das melhores do País.
Uma coisa é certa: esta mãe, esposa, dona de casa e docente é, também, uma atleta predestinada. Aos 13 anos, Sara de Brito já sabia que queria ser professora de Educação Física. Sempre teve queda para o desporto, só que o facto de ter nascido numa pequena aldeia a vinte quilómetros de Castelo Branco lhe quartou os sonhos de infância.
Às seis da manhã apanhava o autocarro para a cidade e só regressava a casa depois das oito da noite. “Era impossível” aceder aos treinos, qualquer que fosse a modalidade escolhida. Ao fim-de-semana é que tinha mais algum tempo livre.
Acordava às cinco da manhã e depois de estar livre dos afazeres da casa que a mãe lhe impunha, lá partia para as aulas de ginástica acrobática. À tarde, com os irmãos, simulava as vitórias épicas de Rosa Mota e de Carlos Lopes. A paixão pelo atletismo vem de longe...
Os anos passaram, conseguiu ultrapassar as “exigentes” provas de acesso do então Instituto Superior de Educação Física (ISEF), começou a dar aulas, casou, teve filhas, e aquela vocação competitiva parecia definitivamente adormecida.
Só que há seis anos, quando começou a dar as primeiras voltas no Polis com o marido, acabou por conhecer a família Clube de Atletismo da Barreira. Entre uma bifana e uma mini aceitou o desafio e lá assinou pelo emblema, mas sem qualquer compromisso competitivo.
“Mais pelo convívio”, lá entrou na primeira prova. Fez a segunda, a terceira e a quarta. Encheu a sala lá de casa com troféus. Puxada pelo marido – Miguel Saraiva – percebeu que podia chegar longe e começou a levar a coisa mais a sério. Fez a quinta, a sexta, a sétima e por muito que a exigência subisse, as vitórias não deixavam de aparecer.
Conquistou algumas das mais importantes provas nacionais de trail e tornou-se numa referência. Tem, admite, orgulho em ser um “exemplo de vida” para muitas mulheres.
Como em quase tudo, esta tardia carreira desportiva tem os seus mas e conciliar as diferentes facetas da vida de Sara de Brito acaba por não ser fácil. No “lufa-lufa” do dia-a-dia, entre as aulas, levar as filhas à explicação, as reuniões e as actividades domésticas, pouco tempo sobra para treinos.
“Muitas vezes estou a correr e a pensar o que vou fazer para o jantar. Outras vezes estou a cozinhar e a fazer alongamentos. Gostava que os dias tivessem mais quatro horas. Fazer esta gestão pode ser muito cansativo”, admite.
Curiosamente, a professora na Escola Secundária Francisco Rodrigues Lobo também dá aulas na antiga prisão-escola e até os reclusos já tiveram de contribuir para a preparação da atleta. “Fomos correr uns seis quilómetros, puxava por eles, dizia-lhes que tinham de acompanhar uma mulher de 46 anos, mas não foi fácil para muitos deles.”
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