Viver
Porfírio, compositor de marchas e de sons
Músico, pedagogo e criador natural da Nazaré
Quem o conheceu diz que há uma Nazaré antes e outra após a passagem de Porfírio José do Carmo Laborinho pelo plano terreno de existência.
Ficou conhecido na vila como músico, pedagogo e criador de um repertório com centenas de canções e marchas, e um dos obreiros da revolução que o Carnaval da Nazaré e as suas marchas sofreram no final dos anos 80 e início dos 90.
É o criador das marchas “Mil Carnavais” (1987), “Na Vão Ao Circo” (2011) e “Avionetas” (2013).
“Ele causava um misto de admiração e carinho entre a comunidade da Nazaré. Os jovens e muita gente seguiam-no e passavam os dias na conversa com ele”, conta a irmã Fátima Laborinho Ferreira.
Recorda uma pessoa popular que, aos 19 anos, na sequência de um acidente de automóvel, perdeu o uso das pernas e que, talvez por isso, se reinventou e se deu sempre aos outros.
Músico autodidacta de géneros que iam do jazz à música clássica, fundou, nos anos 70, a banda rock Xaranga Beat, e após o acidente, foi na sala das traseiras da loja de tecidos para enxovais dos pais que criou uma espécie de santuário da música e do pensamento.
“Ensinou órgão, viola e música a muita gente da vila”, recorda o arquitecto Marco Moreira, um dos seus alunos e membro do grupo Amigos para Sempre, de que fizeram parte músicos conhecidos da televisão como Teresa Radamanto, Hugo Piló, Dina Ricardo, Vítor Coelho, Pedro Lucas, Tânia Alexandre ou Beta Brás.
A sala era um sítio de congregação e partilha, e foi de lá que Porfírio burilou a mudança de paradigma musical da Nazaré, sempre rodeado de jovens, atraídos pela eterna juventude do seu espírito.
“Conversava-se muito pela noite dentro, sobre música, futebol e... Benfica”, recorda Marco, que também haveria de dar nas vistas com uma passagem, com o apoio de Porfírio, pelo programa de televisão Chuva de Estrelas.
Embora tivesse sido o grupo Os Loucos da Folia o pioneiro da mudança nas marchas de Carnaval da Nazaré, que, muitos, consideram como a “apoteose cultural anual” da vila, o evento ficaria marcado pelas composições de Porfírio e os grupos cuja criação inspirou.
“Nos anos 60 e 70, as colectividades já tinham algumas marchas, mas foi ele quem imaginou um som característico para as marchas”, refere o arquitecto.
Estimado como poucos na idiossincrática vila piscatória, as criações de Porfírio Laborinho fizeram parte, até há poucos anos, dos programas culturais da autarquia.
No dia 16 de Junho, a meio da sua 73.ª viagem à volta do sol, a chama tremeluzente que animava Porfírio Laborinho apagou-se.