Sociedade
Quando a solidão bate à porta… chamem a GNR
IsolamentoCentenas de idosos vivem isolados. Alguns não têm filhos, outros viram-nos partir. A visita da GNR deixa-lhes o coração mais quente, nem que seja pelos dois dedos de conversa
A maioria são mulheres. Ficaram sozinhas depois dos maridos morrerem. A vida do século XXI impede, muitas vezes, que os filhos possam estar perto dos pais para os apoiarem na vida mais avançada. A fragilidade própria da idade faz dos idosos, a morar sozinhos e isolados, um dos principais alvos dos burlões ou assaltantes.
A facilidade com que os meliantes abordam estas pessoas, carentes de companhia e com uma vontade enorme de conversar e desabafar, permite-lhes conquistar rapidamente a sua confiança. Não raras vezes acabam por cair no famoso 'conto do vigário'. A GNR está a realizar, durante o mês de Abril, a operação Censos Sénior, que visa identificar a população idosa que vive sozinha e/ou isolada.
Na área de intervenção do Comando Territorial da GNR de Leiria, foram sinalizados 822 idosos em 2015. O JORNAL DE LEIRIA acompanhou a equipa dos Programas Especiais do Destacamento de Leiria na visita a alguns idosos. Bruno Rodrigues e Sandra Fonseca fazem equipa há cerca de cinco anos e a cumplicidade entre os dois e com quem visitam é enorme.
“Ó querida, o que é que comeu hoje? E pessoas estranhas, têm apa recido? Não se esqueça dos nossos conselhos.” Esta é só uma pequena parte das conversas que os militares têm com quem visitam. São recebidos de braços abertos e de sorriso nos lábios. A conversa flui naturalmente, sempre em tom descontraído, mas profissional, mostrando que há uma verdadeira preocupação com eles e ajudando-os a encarar a vida de forma mais optimista. Amélia tem 102 anos.
Em Novembro fará 103, mas a sua jovialidade salta à vista. Recusa-se a abandonar a casa e nem deixa que lhe façam grandes obras. “Esta é a minha casinha e gosto muito dela assim. Uma vez dormi em casa de um filho, numa cama das modernas e nem consegui dormir nada. Prefiro a minha, mesmo mais pequenina”, conta. O marido morreu há quase 50 anos.
Tinha 53 anos, dez filhos e uma “mão cheia” de netos, Amélia já tem um filho no lar e outro em cadeira de rodas. Faz caminhadas, vai à missa e ainda integra um projecto da Cáritas, onde vai duas vezes por semana para convívio. Já foi operada três vezes ao estômago. A sua lucidez faz inveja a muitos jovens e não dispensa uma boa conversa. Mas cuidados, nem sempre tem, admite.
“No outro dia, uma mulher entrou pela parte de trás da casa. Quando a vi perguntei o que estava a fazer ali e pediu-me esmola. Veio atrás de mim para a cozinha e começou a abrir as gavetas. Quando lhe disse que ia chamar o meu filho, foi-se embora”, contou.
“Não se esqueça que deve gritar pelo 'Manel' ou por alguém, dando a entender que está cá alguém em casa e não tenha ouro nem dinheiro”, aconselham os militares. “Gosto muito que a GNR venha cá, é sinal que ainda estou viva”, diz.
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