Opinião

Ambientalismo de fachada

2 dez 2023 10:12

Uma dessas mentiras é o esquema de compensação de carbono, em que os agentes poluentes se comprometem a compensar as suas emissões

O impacto ambiental das nossas sociedades é, hoje, tão flagrante, que é já impossível para a indústria, empresas e decisores políticos fugirem às suas responsabilidades sobre este assunto. Acontece que entre compreender as suas responsabilidades e agir perante elas vai uma distância abismal, e é preciso estar atento. Desde empresas que se auto-proclamam “carbono neutras”, a publicidade que se apropria desavergonhadamente da causa climática, há de tudo para nos fazer crer que podemos continuar com a nossa vida normal sem comprometer o ambiente - o que é categórica e absolutamente mentira.

Uma dessas mentiras é o esquema de compensação de carbono, em que os agentes poluentes se comprometem a compensar as suas emissões promovendo acções noutros locais que ajudem a capturar o mesmo carbono que emitem.

Os problemas deste esquema são imensos, sobejamente documentados e fundamentados, e devidamente denunciados nas mais altas instâncias. Mas para os efeitos desta crónica vou assumir que são vantajosos - eu sou generosa e moderada! Até para este esquema é necessário cumprir requisitos mínimos, baseados no princípio básico de que o mesmo serve apenas para emissões carbónicas impossíveis de evitar, que passam por (1) assumir compromissos com objetivos concretos, medindo previamente e de forma independente as emissões; (2) planear, quantificando em metas, a forma como será feita a compensação; (3) agir rápida e eficazmente, dentro de prazos definidos em proporcionalidade; e, por fim, (4) publicar e demonstrar os resultados dessas acções.

Tudo o que não cumpra estes critérios mínimos (que são mesmo muito mínimos, discutíveis até) não é compensação - é ambientalismo de fachada. Vou dar um exemplo: imaginem que existe numa cidade um evento dedicado à promoção da venda de automóveis, organizado pelo município em parceria com várias empresas do meio. Ao fim de várias queixas a denunciar o óbvio, a cidade assume que há um problema ambiental associado.

O que fazer? Canibalizar um projeto municipal de reflorestação pré-existente, decorrente da necessidade de compensar um outro problema ambiental - devastadores incêndios florestais - e dizer que as árvores plantadas serão a compensação ambiental deste evento, NÃO É uma acção de compensação criteriosa e consequente.

É o tal ambientalismo de fachada, ou Greenwashing. E é inaceitável.