Opinião
Breve autobiografia
Sou livre e agradeço a quem fez por isso
Para começar com o pé direito (ou esquerdo, como aos leitores convir), talvez seja adequado apresentar-vos a pessoa que hoje começam a ler neste formato [edição impressa]. O mais certo é saberem de antemão que me chamo Cláudia e que sou psicóloga, mas isso pouco diz a meu respeito.
Talvez até fosse mais interessante perceberem a razão do meu nome e o porquê de ter tirado psicologia. Contudo, limito-me aos meus princípios e julgo que aos poucos se vá inferindo com que linhas me coso.
Nasci em par, num dia dos namorados do século passado. Sou natural de Leiria, mas vivi mais de metade da vida numa aldeia chamada Casal Vermelho, mais precisamente, no sítio do Olho da Fonte. Habituei-me, desde os primeiros fôlegos, ao barulho da sirene e das motas dos operários da serração familiar.
Cresci numa família numerosa e sou hoje quase tudo o que lá vivi. Não frequentei o pré-escolar. Os pré-requisitos académicos adquiri-os em trabalhos práticos.
Os números, na contagem das espigas de milho que em noites quentes descamisava; os quilómetros, na distância, que a pé, todas as madrugadas a minha mãe fazia para ir buscar leite; as letras e as palavras, na música que ecoava lá em casa nas cassetes do meu pai e nos discos dos meus irmãos.
Os afetos, a partilha, as regras e os limites, de forma rotineira e agarrada ao funcionamento da dinâmica das situações, foram-me sendo transmitidos a seu tempo. Nem tudo foram rosas, talvez algumas frustrações tivessem vindo tarde e talvez certas coisas só agora tenham reconhecido impacto. Mas não me queixo, sou privilegiada.
Se é sorte, um conjunto de “ses”, ou fruto da oração da minha mãe, não sei precisar. Sei apenas que o mundo à volta parece desmoronar e apesar de eu não existir fora desse contexto, a vida tem-me sorrido e vejo, diariamente asseguradas, grande parte das necessidades listadas na pirâmide de Maslow. Sou livre e agradeço a quem fez por isso. Colocar-me no sapato dos outros é uma premissa que hasteio.
Prometo-vos que será sempre o coração a falar.
Texto escrito segundo as regras do Novo Acordo Ortográfico de 1990