Opinião
De Lech Walesa a Forrest Gump…
Fazer pontes com a juventude de hoje, como com as juventudes de outros tempos, implica descer à terra dos seus saberes
Acontece a quem tem oportunidade de se sentar junto de várias gerações. E a essa possibilidade dar espaço, e tempo, para que alguns nomes do passado recente venham a lume. Personalidades reais. Personagens marcantes. Políticos, músicos, actores, apresentadores, escritores. “And so on”.
De um momento para o outro, logo, se encontra alguém que “nunca ouviu falar” dessa pessoa, que não conhece o filme dessa personagem, que nunca reconheceu o autor desta melodia.
Há uns anos a informação estava mais condensada. Hoje, cada pessoa da mesma casa pode estar a ver a sua série, a escutar a sua música, a ler o seu livro. Tempos houve em que a coisa estava mais concentrada. Toda a gente via a mesma telenovela e toda a gente, dentro e fora de casa, poderia falar dela. Agora cada pessoa tem e traz uma “experiência” diferente.
Encontrar uma linguagem comum, talvez, a mais difícil das tarefas actuais. Sobretudo, para quem tem à sua frente, gente de várias gerações ou de uma geração bem diferente da sua.
Quem tem em mãos a missão de partilhar alguma luz com os habitantes deste mundo, tem sobretudo, e ainda, a missão de estar bem atento ao que acontece, a cada momento. E a compilar saberes como se Palavra de Deus fossem. Qual nova Bíblia da Humanidade.
Sim. Se de muitos modos a divindade falou ao longo dos tempos, continua, hoje, a fazê-lo, mais não seja pelas e nas inquietações das pessoas do hoje. Tarefa adicional e árdua para todos aqueles que têm a missão de continuar a espalhar palavras de fé, esperança e caridade.
E, neste tempo que é o nosso, é quando, efectivamente, delas precisamos. Não sem, antes, se instalar um terreno comum.
Fazer pontes com a juventude de hoje, como com as juventudes de outros tempos, implica esse descer à terra dos seus saberes, da sua ignorância e dos seus anseios. Dos saberes sobre os quais construíram ou seus sentires. Da ignorância que não lhes dá o que supostamente acreditamos precisarem. Dos anseios que abrem portas às inquietações maiores da existência.
Mais do que nunca, espaços para que essas descobertas aconteçam, urgem. Longe das “imersões” anunciadas pelas novas seitas “coachinguianas”, perto de quem sabe que a experiência do agora é tempo único e irrepetível de vida. E, para escutar algumas destas certezas, é preciso começar pelo princípio. E, no princípio, tem de haver encontro. E, para que este aconteça, temos, de nos cruzar a falar do que conhecemos, ou não…
Já agora, já ouviram falar de Lech Walessa ou do Forrest Gump?