Opinião
Leiria, #existeerecomenda-se
Não precisamos de revisitar um Eça e os tempos que lhe foram de inspiração, quando habitou estas ruas, para sublinhar a mesquinhez local
A expressão não deixa margem para dúvidas e, nos últimos anos, entre a afirmação e a negação da existência, a verdade é que Leiria se foi descolando de uma certa modorra que lhe tolhia os movimentos e iniciativas. Terra de artistas consagrados, muitos foram fazendo a vida lá fora, junto dos holofotes que a nossa eterna e nacional dependência de Lisboa faz mister. Outros, e poucos, por cá foram ficando mas sacrificando alguma visibilidade que de, outro modo, estaria garantida.
Não é intento, discursar sobre o management das carreiras dos nossos artistas. Interessa-me mais, bem mais, pensar, mesmo que pobremente sobre o management das nossas terras. Não que o intento seja político, mas prende-se, necessariamente, com as opções políticas dos últimos anos, ou se quisermos, de sempre nesta terra à beira do ex-pinhal plantada.
Não precisamos de revisitar um Eça e os tempos que lhe foram de inspiração, quando habitou estas ruas, para sublinhar a mesquinhez local. Sim, seria bom que o retrato mau fosse só do clero de então. Mas era, ou foi, bem mais do que isso. Gente que na gerência dos seus “negócios” tudo faz, às claras e às escuras, para conquistar os seus intentos. Sempre com ar da mais devota das pessoas, espiritual ou civicamente falando.
A verdade é que Leiria tem estado diferente. Com algumas tentativas de animação e de evidente transformação cultural fruto dos seus munícipes e das políticas locais que, mesmo quando não toma a dianteira das e nas iniciativas, logo arranja modo e maneira de a elas se juntar e delas, algumas, fazer suas.
Recentemente, tivemos uma Feira de Leiria/Maio digna de nota e, agora, uma Feira do Livro dita Versátil. Se, na primeira a gestão ainda ficou por cá, acho eu, já nesta parece que a subserviência à classe pensante que habita junto do Parlamento e seus arredores mostrou-se e mostrou as suas garras da qualidade que a sociedade espera…
Parabenizadas algumas destas mudanças, parece, no entanto, que continuamos a ignorar o território com as periferias que habitamos e as pontes (pedonais) possíveis por concretizar. Continuamos a ser uma cidade sem uma ligação facilitada, a não ser por carro, com as freguesias circundantes, muitas delas ainda com partes significativas em zona urbana.