Opinião

Joacine em tempos de cólera

5 dez 2019 15:39

É, para mim, uma grande lufada de ar fresco ouvir as coisas que a Joacine traz à discussão.

E eis que o país elegeu uma mulher negra gaga, que nos pôs a todos a pensar “e agora? Tenho de me concentrar para a entender?”.

Parece-me bem.

E eis que esta mulher, que ainda agora começou, afinal tem defeitos, comete erros, e até já está desentendida com a direcção do seu partido. É, de facto, algo novo, no mundo partidário! E eis que com isso percebemos que esta mulher tem um ego!

Crime! Como se atreve? Nunca antes visto!

E assim, em menos de dois meses de novidade, os fazedores de opinião e jornalistas instalados espelham o mundo: somos muito bons a falar de inclusão, mas não sabemos nada de a praticar.

Achamos, portanto, que inclusão significa olhar para uma pessoa diferente de uma maioria, chamá-la para o pé e dizer: vem cá, que estás incluída! Agora porta-te bem e deixa de ser diferente. E depois vem o choque de perceber que não é isso que acontece, e que a pessoa não vai! deixar! de ser diferente!

Que horror! A trabalheira! Sobre isto apraz-me dizer três coisas:

1. é, para mim, uma grande lufada de ar fresco ouvir as coisas que a Joacine traz à discussão.

Não concordo sempre com ela (e está tudo bem!), mas fico mesmo feliz que haja alguém que me faça pensar em amor na política, sim senhor! Se calhar é mesmo disso que precisamos. Será isto a visão feminina na política?

Por que não falar de amor e trabalho?

Também faz falta falar de amor, empatia, solidariedade, e esses valores não são menores!

Não vos vejo tão aflitos, quando os empreendedores do mercado vêm pedir aos seus “colaboradores” amor à camisola!

2. Não deixa de enervar (espantar, já nada espanta) que os cães de fila do costume prefiram sair ao ataque de uma nova deputada e do seu partido recém entrado no parlamento, ainda com tudo por dizer e fazer, em vez de usarem o mesmo ímpeto escrutinador para caçar os partidos instalados, há anos, em malhas bem mais prejudiciais para todos nós!

Bem sei que aí teriam de fazer jornalismo em vez de serem meros amplificadores do ódio das redes, mas… Fica a dica!

3. Portugal é um país que, para a mesma legislatura, ousou eleger pessoas que há muito mereciam representatividade, e pessoas que se alimentam do ódio e da frustração para fazer politiquice.

Esse é um debate que se vai adensar, então. Estejamos preparados para estar do lado certo e saber discernir o certo do errado - é mesmo assim. Centremo-nos nas bandeiras defendidas, não nas personalidades de quem as defende.