Opinião
Onde nos leva a informalidade
A democracia (e a busca da Paz) pressupõem sempre um diálogo aberto e transparente em que as ideias têm de ser claras para evitar equívocos
Meu Caro Zé,
Se já era difícil descrever a confusão que reinava no campo internacional que a todos atingia, que dizer do que cá vai, onde as barbaridades internacionais, com terríveis ameaças para a paz global, quase desapareceram dos “media” e das discussões?
Parece-me que em tudo isto há um ponto comum, que é o desrespeito pelas regras democráticas quer pelos ditadores e autocratas, quer mesmo dos governantes das democracias que se assumem como tais.
A democracia (e a busca da Paz) pressupõem sempre um diálogo aberto e transparente em que as ideias têm de ser claras para evitar equívocos.
Sócrates, o grego, afirmava que a verdadeira sabedoria começa pela exata definição dos termos, sendo que o termo é a expressão de uma ideia.
E parece-me que é a manipulação dos termos, por ignorância, estratégica ou má fé, que está a corroer as democracias e a permitir o uso sistemático de subterfúgios que levam à corrupção do sistema democrático, com as consequências que agora se vivem. E se à corrupção dos termos acrescentarmos o quase sistemático uso das meias-verdades, que Francisco Lucas Pires antecipava serem mais “corrosivas” que as mentiras, teremos uma boa base para explicarmos o “pântano” em que nos encontramos.
É que esse “pântano” comportamental é muito consequência da natureza da informação, em que políticos, jornalistas e comentadores e, por sua influência, grande parte de nós, cidadãos, nos vemos envolvidos, deixando-nos emaranhar nessa teia que temos de destruir se queremos, reconstruir a “cidade”.
O discurso do primeiro-ministro é exemplo de uma construção de meias-verdades e utilização de termos equívocos, sem embargo de se reconhecer que as abordagens judiciais têm algumas caraterísticas que podem assumir um “fundamentalismo” de atuação que condicione uma legítima atividade política.Aliás, creio que foi esta a principal mensagem que motivou a sua intervenção.
Neste contexto, refugiou-se na necessidade de ultrapassar a “burocracia” castradora da concretização de legítimos objetivos políticos, esquecendo um dos aspetos centrais dos atos políticos: a formalidade. No Dicionário da Língua Portuguesa é clara a definição de formalidade: “modo de proceder publicamente”. Bem sei que há quem não goste de ir à origem dos termos, mas sem formalidade não há possibilidade de transparência nem de rastrear (e não se trata de travar) os atos públicos. Com apelo à informalidade acontece o que está a vista.
Até sempre,