Opinião
Pré-global semi-rural
Todos conhecemos os prósperos cidadãos chineses, bem capitalizados, que compram, alugam e constroem na região
Volto este mês a partilhar ideias ligadas à transformação social da cidade e suas aldeias adjacentes. Não se trata de uma regurgitação melancólica (conotada com o termo galego “saudade”), nem de um qualquer protesto. Trata-se de sinalizar uma vez mais a importância do momento que tem revolucionado a região.
Não falo aqui de velhos mouros, ou de turísticas judiarias. Refiro-me à assunção de que finalmente nos integramos nas esferas globais de emigração, de fluxos financeiros e culturais. Panorama visível, por exemplo, na simpática praça Rodrigues Lobo, nas escolas, igrejas, mercados, ou restaurantes.
Todos conhecemos os prósperos cidadãos chineses, bem capitalizados, que compram, alugam e constroem na região. Alguns conhecerão os predicadores Tablighi (Paquistão), que incluem a cidade na esfera das transformações e debates que permeiam todo o mundo islâmico.
Mais recentemente ainda, os primos brasileiros apresentam a sua feijoada com couve e farinha, repovoando o abandonado litoral com novos negócios e personagens.
Assinalar ainda o cheiro do estranho kebab made in Índia que hoje perfuma muitas zonas da cidade. O queijo fresco, o requeijão, ou as míticas “rolhas da Chaínça” (umchèvre de nível bastante aceitável), disputam hoje o lugar com a burrata e o mascarpone (duas exportações da indústria leiteira italiana).
Em circulação pelo País, já parei algumas vezes na cidade acompanhando companheiros do chamado “eixo do bem”, cidadãos euro-americanos.
Como dedicado filho da terra, de tudo tentei para lhes arrancar alguns euros, mas nunca consegui que comprassem uma única lembrança, uma peça de roupa, uns sapatos, uma garrafa de vinho. Nada do que lhes era comercialmente oferecido lhes parecia relevante.
Um colega inglês comentou que no seu país os kebabs passaram de moda há 30 anos; uns franceses perguntaram porque é que o “vinho da casa” era sempre mau.
Sendo certo que participamos já nos trânsitos globais, interessaria que estes nos ajudassem a afastar da medíocre repetição de erros passados.