Sociedade

Assistentes no processo de Pedrógão Grande rejeitam vingança e querem a verdade

24 mai 2021 13:32

Julgamento dos incêndios de 2017 iniciou-se hoje com recurso do Ministério Público a decorrer

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O presidente da Câmara de Figueiró dos Vinhos e o ex-presidente do Município de Castanheira de Pera são dois dos 11 arguidos no processo
Ricardo Graça

Os advogados dos assistentes no processo dos incêndios de Pedrógão Grande, em Junho de 2017, nos quais o Ministério Público contabilizou 63 mortos e 44 feridos, garantiram hoje que não pretendem vingança com este julgamento, mas sim apurar a verdade e a responsabilidade dos factos.

“Não estamos aqui por vingança, mas pela salvaguarda da justiça material, para que catástrofes desta natureza não se voltem a repetir e para que os responsáveis sejam condenados”, adiantou Patrícia Oliveira, nas exposições introdutórias, no início do julgamento, que hoje arrancou no Tribunal Judicial de Leiria.

A primeira sessão do julgamento, onde estão 11 arguidos a quem são imputados crimes de homicídio por negligência e ofensa à integridade física por negligência, alguns dos quais graves, iniciou-se ainda sem decisão de um recurso do Ministério Público (MP) para o Tribunal da Relação ao processo.

O MP questiona a classificação como megaprocesso dos autos relativos aos incêndios de Pedrógão Grande. Em resposta ao requerimento do MP, a juíza titular do processo assegura que a distribuição dos autos foi feita “de forma totalmente electrónica e aleatória, através da aplicação informática em uso nos tribunais judiciais”, pelo que “inexistem quaisquer nulidades ou irregularidades processuais”.

O mesmo despacho da magistrada judicial refere que “quaisquer divergências resultantes da distribuição” deveriam ter sido suscitadas no prazo legal, sendo por isso o requerimento do MP “manifestamente intempestivo e extemporâneo”.

Filomena Girão, defensora do arguido Augusto Arnaut, comandante dos Bombeiros Voluntários de Pedrógão Grande, destacou a importância de “não se fazer mais vítimas”.

“O comandante Arnaut ouviu as declarações e tudo o que se passou aqui hoje com muita consternação e com muito respeito pela dor das vítimas deste incêndio. Não precisamos de mais vítimas. Este incêndio já fez vítimas suficientes, percebemo-lo todos. Uma condenação ao comandante Arnaut seria apenas isso, seria apenas juntar mais uma vítima ao extenso rol de que temos”, adiantou Filomena Girão aos jornalistas, à saída do tribunal, após a interrupção para almoço.

Na sala de audiências, a advogada adiantou que a acusação a Augusto Arnaut é torná-lo um “bode expiatório”.

“Temos uma grande lição a aprender. Basta ver o estado das nossas florestas para perceber que quatro anos volvidos, temos muito para aprender e para resolver. Não podemos sacrificar este homem. Naquele trágico dia, os meios de combate foram poucos, num combate que, sabemos hoje, era impossível”, acrescentou Filomena Girão.

Para a advogada, “sob acusação de mais de 100 crimes não está apenas o comandante, nem o bombeiro, estão todos os bombeiros que dão a sua vida, que ainda se têm de confrontar com a dor alheia e com a sua própria dor”.