Sociedade
Atenção! Ordem para aliviar o peso das mochilas
OMS recomenda que as crianças carreguem mochilas com menos de 10% do peso do seu corpo

Vão seguir os alunos todos os dias, portanto, as mochilas, mais propriamente o peso que estas transportam, deve ser um dos temas a ponderar nesta fase de início de ano lectivo. Até porque há material escolar que pode ser adquirido a pensar no bem- estar físico dos alunos.
Para Sónia Santos, da Marinha Grande, mãe de um aluno do 3.º ano, este é um assunto muito relevante. “Comprei mochila com uma estrutura onde esta encaixa. Quando ele transporta pouco peso, usa só a mochila às costas. Quanto tem mais peso do que é habitual, encaixa nessa estrutura de rodinhas”, conta a encarregada de educação. A colaboração da professora é essencial. “Costuma enviar para casa apenas os livros que são necessários para os trabalhos de casa. E a maioria do material escolar fica sempre na escola”, conta Sónia Santos. Além disso, salienta a mãe, é importante que os pais também cumpram o seu papel pedagógico e expliquem bem em casa a razão pela qual as mochilas dos filhos devem manter-se leves.
A mesma preocupação tem Sara Rosa, cujo filho frequentará também, este ano lectivo, o 3.º ano de escolaridade, na Marinha Grande. “Precisamente por entender que a questão do peso exercido sobre a costas é importante, trocámos a mochila que tinha ainda durante o ano passado. Mudámos para uma mais prática e que, embora não tenha rodinhas, é mais leve”, conta a encarregada de educação.
“Mesmo quando eu ainda era estudante, sempre defendi que era preferível utilizar fichas e páginas individuais do que manuais que vão aumentando de número à medida que se avança de ciclo de ensino”, considera Sara Rosa.
De acordo com o Serviço Nacional de Saúde (SNS), “o peso das mochilas das crianças é um assunto importante para pais, educadores e profissionais de saúde. O transporte de mochilas com peso excessivo (superior a 10% do seu peso corporal) pode ter implicações negativas na saúde”. Diferentes estudos indicam que “mais de metade das crianças em idade escolar transportam mochilas com peso excessivo”, salienta o site do SNS. Isto porque, consigo, os alunos têm de transportar livros, cadernos, material escolar, vestuário e calçado para educação física, entre outros itens. Acresce que, muitas vezes, a própria mochila também não é usada correctamente e é carregada apenas num ombro.
A Organização Mundial da Saúde recomenda que as crianças e jovens em idade escolar (6 aos 18 anos) carreguem mochilas apenas com menos de 10% do peso do seu corpo. Ou seja, se uma criança pesar 30 quilos, a sua mochila não deve ultrapassar os 3 quilos, realça o SNS.
O peso excessivo na mochila tem várias consequências. “As crianças em idade escolar estão numa fase de crescimento e é nesta fase que muitos dos problemas posturais aparecem. Usar, repetidamente, uma mochila demasiado pesada numa idade precoce pode contribuir para o aparecimento de dores, particularmente ao nível dos ombros, do pescoço e da região lombar”, adverte a mesma fonte. Os impactos a curto prazo são as dores de costas e de pescoço. A médio prazo, são a alteração da marcha e da postura. Além disso, a longo prazo, pode levar a lesões degenerativas da coluna que alteram o crescimento do corpo. “Os pais e encarregados de educação desempenham um papel primordial na questão da redução do peso das mochilas. Sugere-se que orientem as crianças no sentido de escolher materiais mais leves, bem como supervisionar a preparação da mochila de acordo com o horário escolar”, salienta o SNS.
Deve-se “optar por mochilas de rodinhas; usar a mochila carregada à altura do dorso (parte média das costas); usar a mochila nas costas o mínimo tempo possível; distribuir adequadamente o material escolar dentro da mochila, colocando o conteúdo mais pesado junto às costas; colocar na mochila apenas o material necessário para o dia em causa; não levar para casa manuais que não são necessários, deixando-os, por exemplo, em cacifos nas escolas; usar dossiers em substituição de cadernos, para poder escrever em folhas que vão sendo arquivadas; usar as duas alças da mochila; e é ainda aconselhado aos profissionais de saúde abordar a temática do excesso de peso das mochilas durante as consultas de vigilância de saúde”.
Conselhos do ortopedista
No arranque de mais um ano lectivo, a campanha Olhe pelas suas Costas, iniciativa dedicada à prevenção e sensibilização para as dores nas costas, alerta para um problema cada vez mais frequente entre crianças e adolescentes, o transporte diário de mochilas escolares com excesso de peso. Lançada em 2009, a campanha é uma iniciativa que visa sensibilizar a população para a problemática das dores nas costas, alertar para as suas consequências na vida pessoal e profissional dos portugueses e educar sobre as formas de prevenção e tratamento existentes. A iniciativa tem a chancela da Sociedade Portuguesa de Patologia da Coluna Vertebral, da Associação Para o Estudo da Dor, da Associação Portuguesa de Medicina Geral e Familiar, da Sociedade Portuguesa de Neurocirurgia, da Sociedade Portuguesa de Medicina Física e de Reabilitação e da Sociedade Portuguesa de Ortopedia e Traumatologia e conta com o apoio da Medtronic.
E no âmbito do regresso às aulas, Rui Duarte, médico ortopedista e coordenador da campanha Olhe pelas Suas Costas, refere: “Na hora de escolher uma mochila, os pais devem considerar vários factores. A mochila deve ser leve quando está vazia, ter alças largas, acolchoadas e ajustáveis, bem como uma faixa de apoio lombar para ajudar a distribuir o peso. A mochila não deve ultrapassar 10% a 15% do peso corporal da criança. Deve ainda ser proporcional ao tamanho da criança, sem ser maior que o seu tronco”. E o médico acrescenta: “Além de escolher a mochila adequada, é importante ensinar as crianças a distribuírem o peso de forma equilibrada dentro da mochila, utilizando ambos os ombros para carregar a mochila e ajustando as alças para que a mochila fique próxima ao corpo. Os objectos mais pesados devem estar colocados mais próximos da coluna.
Evitar o transporte de materiais desnecessários também é crucial. Quanto à postura, os pais e educadores devem promover a importância de uma postura correcta, tanto na sala de aula como em casa, e incentivar pausas regulares durante os períodos de estudo para evitar longas horas numa posição sedentária”, prossegue Rui Duarte. “Os pais devem estar atentos a sinais como dores nas costas, ombros ou pescoço, alterações na postura (por exemplo, inclinação para a frente), marcas vermelhas nos ombros causadas pelas alças da mochila, dificuldades em colocar ou retirar a mochila, assim como queixas frequentes de cansaço ou desconforto. Se a criança começar a evitar carregar a mochila, ou a queixar-se frequentemente, é importante investigar a causa”, recomenda o clínico. A campanha reforça que mochilas leves, bem ajustadas e usadas correctamente “são a chave para proteger não apenas a postura e a saúde da coluna, mas também a qualidade de vida das crianças no futuro”.