Autárquicas 2025

Batalha: Um debate com propostas, acerto de contas e juras de diálogo

30 set 2025 15:15

Habitação dominou o debate entre os candidatos autárquicos, promovido esta segunda-feira pelo JORNAL DE LEIRIA

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O debate contou com a presença de cinco dos seis candidatos à câmara
Ricardo Graça
Maria Anabela Silva

Com os problemas da habitação em destaque, o debate entre cinco dos seis candidatos à câmara da Batalha – Vítor Sousa (CDU) não esteve presente por “motivos profissionais” – teve discussão de ideias e propostas, mas também momentos para acertos de contas e juras de diálogo “com todos” para garantir a governabilidade do município, caso nenhum dos concorrentes vença com maioria. 

A abrir o debate, que o JORNAL DE LEIRIA realizou esta segunda-feira, esteve o tema da habitação, com os candidatos a serem unânimes a apontarem este como um dos principais problemas do concelho.

Lamentando que, até agora, o assunto tenha sido encarado no município “com muitas promessas e muitos planos e pouca acção”, Dário Florindo, da Iniciativa Liberal (IL) propôs um programa voluntário de agregação de lotes, com a câmara a agir “como facilitadora”, e pede a actualização das Áreas de Reabilitação Urbana, com “novos benefícios fiscais”, bem como a revisão do PDM que, tal como está, “não serve a Batalha”. 

O candidato liberal sugeriu ainda que o município disponibilize projectos pré-aprovados aos privados, o que motivou a primeira picardia da noite.

“A IL a querer concordar connosco”, atirou o cabeça-de-lista do Chega, Joel Esperança, alegando que o partido já apresentou essa proposta na Assembleia Municipal e não teve, então, o apoio dos liberais. “Folgo em saber agora que concordam connosco”, disse o representante do Chega, que também reconheceu que “é obrigatório mexer no PDM”.

O mesmo defendeu o candidato do PSD, André Sousa, considerando que há terrenos rústicos inseridos na malha urbana que têm de passar a urbanos, para “dar soluções a jovens casais” e evitar que “tenham de fugir” para alguns concelhos vizinhos. 

Já a candidata do CDS-PP, Ana Rita Silva, defendeu a criação de uma bolsa de habitação a construir em terrenos camarários para jovens, concordando com a necessidade de rever e ampliar as actuais ARU e de agilizar os processos de licenciamento, com este último ponto a ser referido também pelos candidatos da IL e do Chega.

A cabeça-de-lista dos centristas disse ainda recear que a urbanização projectada para a zona do futuro centro de saúde, que prevê cerca de 360 novas casas, “não seja uma realidade no curto prazo”.

Em resposta, Raul Castro, actual presidente que se recandidata pelo Batalha é de Todos Movimento Independente (BTMI), revelou que o processo “já entrou na câmara” e que será agora submetido à Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional do Centro. 

Assumindo que “sem habitação não se consegue atrair empresas”, o cabeça-de-lista do BTMI avançou que “estão a aparecer outros projectos” privados, referindo que recentemente houve uma manifestação de interesse de um promotor para a construção “de 500 novos apartamentos”.

Raul Castro alegou ainda que o município “não tem capacidade para responder a processos de arrendamento”, pelo que, não deve apostar na construção de habitação própria.

Depois da habitação, falou-se de economia, com os candidatos a apontarem diversas estratégias para atrair e fixar empresas, concordando todos com a necessidade imperiosa de concretizar a zona industrial de São Mamede, servida com um nó de acesso ao IC9, e com a expansão da área empresarial da Jardoeira. 

“A zona industrial da Jardoeira é o nosso aeroporto”, ironizou André Sousa a propósito do arrastar do processo, que tem “décadas”, acusando o actual executivo de “não ter usado um euro” do empréstimo que fez de 4,5 ME para o projecto.

“Calma, havemos de fazer”, respondeu, com toda a tranquilidade, Raul Castro, lembrando que as duas zonas industriais e a ligação ao IC9 “não são necessidades de agora”. 

Dário Florindo e Ana Rita Silva defenderam a redução da derrama e uma acção mais pró-activa da câmara junto de potenciais investidores, enquanto o candidato do Chega afirmou que, “antes de atrair novas empresas, temos de cuidar das que existem”, acabando com o “excesso de burocracia no relacionamento com o município”. Joel Esperança sugere ainda a criação de um prémio de empreendedorismo no valor de 40 mil euros. 

André Sousa sugeriu também a devolução de 2,5% da componente municipal do IRS à população, considerando que, dessa forma, se estará a apoiar a economia local, nomeadamente, o comércio.

“O raciocínio linear de que as pessoas vão gastar [esse dinheiro] no comércio local é uma ilusão”, argumentou Ana Rita Silva, com o candidato do PSD a ripostar: “Prefere que o dinheiro fique na câmara. Eu prefiro que fique nas famílias”. 

Em matéria de turismo, o cabeça-de-lista do Chega quer criar “um novo mercado de turismo para a Batalha”, tendo como âncora um parque de campismo em São Mamede com piscinas abertas ao público.

Já o candidato do PSD lamentou que a Batalha tenha “a galinha dos ovos de ouro [o Mosteiro] mas que os estão a chocar noutro lado”, referindo ao pouco tempo que os turistas passam na vila.

Para tentar contrariar essa realidade, André Sousa sugere a realização de eventos de “pequena e média dimensão” e a definição de uma estratégia que ligue o mosteiro a outros pontos de interesse do concelho.

Já Ana Rita Silva entende que este é assunto para especialistas, com aposta no branding territorial e a definição de uma estratégia que cria “a narrativa do concelho”, e propõe a criação de um centro de interpretação do Mosteiro.

Por seu lado, Raul Castro acenou com a manifestação de interesse de um promotor para um “investimento importante” na área do turismo, sem avançar mais informação.

A fechar o debate, os candidatos pronunciaram-se sobre a governabilidade da câmara num cenário de nenhum ganhar com maioria.

Os representantes do Chega, CDS-PP, PSD e IL assumiram, abertamente, disponibilidade para o diálogo, de forma a garantir que o governo do município, enquanto Raul Castro disse que prefere esperar “calmamente” pelos resultados e depois “ver as várias hipóteses em cima da mesa.

Instado pelo candidato do Chega a esclarecer se cumprirá o mandato até ao fim, caso vença, ou se assumirá o cargo de vereador da oposição, o candidato do BTMI não respondeu. 

Na parte final do debate, registou-se um dos momentos mais tensos, com Ana Rita Silva, que nas últimas autárquicas foi eleita pelo PSD, a lançar farpas a André Sousa, seu parceiro de lista nas anteriores eleições, e ao partido que a elegeu.

“Durante quatro anos não tive ajuda para preparar as reuniões de câmara. [André Sousa] Nunca ajudou (…). Pena que nos últimos quatro anos, em que foi preciso fazer oposição de qualidade, tenha existido falta de apoio”, acusou a agora cabeça-de-lista do CDS-PP, que garantiu estar “disponível para dar governo à Batalha”.