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DJ Cuts: duas noites para celebrar 25 anos de carreira
Marinha Grande e Leiria. É já neste fim-de-semana que o DJ Cuts comemora 25 anos de alternativa pop a virar discos
E então, numa noite dos anos 90, um cliente do Anubis tornou-se DJ no Anubis. Jorge Dias durante a tarde, DJ Cuts atrás dos pratos.
Antes, no entanto, também a convite de Mário Brilhante, proprietário de ambos os bares no Terreiro, começou no Arts, com discos emprestados por um amigo para o baptismo de voo.
Sem certezas, arrisca a primeira escolha na primeira sessão: Portishead, talvez. O nome de “guerra” viria a ganhar todo um novo sentido à medida que desenvolveu o hábito de “cortar” as canções e antecipar a transição para o tema seguinte.
“Passei a ser conhecido porque “cortava” as músicas”, diz ao JORNAL DE LEIRIA.
No próximo fim-de-semana, Jorge Dias comemora 25 anos de carreira enquanto DJ Cuts. Sexta-feira, 27, na Marinha Grande, no Operário, onde actualmente mantém a única colaboração fixa, e sábado, 28, em Leiria, no Filipes Bar.
“Durante 21 anos seguidos, fiz isto seis e sete noites por semana”, comenta. “Talvez seja das pessoas no país que tem mais horas de dialéctica com o público”.
Com base na experiência acumulada, declara que ser DJ é um trabalho “de pessoas para pessoas”, porque “a música acaba por ser um meio para chegar” aos outros, que “são diferentes, necessariamente”, logo o DJ não pode passar só a música de que gosta.
Como nas casas de muitas outras famílias, em casa dos pais havia um gira-discos, mas, discos, quase só colectâneas do Reader's Digest e fados. O que o leva a concluir: “Hoje, se estivesse transformado num DJ produtor, era tipo o Ride e o Stereossauro, ia buscar aqueles vinis e dava-lhes uma nova roupagem”.
São 25 anos a observar, da mesa de mistura, todas as mais importantes transformações na indústria – dos CD ao revivalismo do vinil e, depois, o streaming – e nos costumes de uma cidade, Leiria, onde muita coisa mudou, incluindo, nos bares e nas discotecas.
Apesar do perfil indie do Arts, onde esteve alguns meses, antes de transitar para o Anubis, em que o ambiente também se dava regularmente ao “alternativo”, era impossível ignorar as quintas-feiras académicas.
“O que eu fazia nas quintas-feiras, é aquilo que na Antena 3 se chama há uns anos a alternativa pop. Sempre tive essa postura e também ouvi a Antena 3 desde o início”, explica.
Agora que o Anubis já não existe – encerrou durante a pandemia – e mais de duas décadas passaram, o espírito é o mesmo: na Marinha Grande, depois de amanhã, Cuts deverá viajar desde Linkin Park até Queen e Rosalía, enquanto no Filipes – “fomos sempre concorrentes mas leais e amigos” – haverá rock, certamente, mas também The Weeknd ou Dua Lipa.
“Nunca tive preconceitos com a música, nasci na África do Sul”, resume.
No Anubis, onde terminou como gerente, Jorge Dias promoveu várias edições de um concurso “que formou muitos outros DJ's” e desenvolveu diversas noites temáticas, do rock às danças latinas, que permitiram alargar “o espectro de públicos”.
Há sempre influências, claro. O grunge, sobretudo na adolescência, o funk, a soul. “Vivi muito, na viragem do milénio, estes estilos”. E ainda a electrónica e toda a evolução e expansão por diferentes flancos, desde os New Order dos anos 80 a saírem do post-punk britânico até ao house e ao electroclash.
“Sou muito de dar, até sou um bocado do disco pedido, como desafio. Onde é que vou pôr esta peça? Não prometo que vou pôr, mas tento sempre”, assegura. E há sempre um novo começo, nas primeiras horas da noite, em que o DJ pode ser apenas “a banda sonora das conversas das pessoas”.
Durante 25 anos, a maioria passados no Anubis, também na Alibi, no Xanax, no Musiqu3, no Suite e na Sushi Electrónica, entre outros espaços, se dançou ao som do DJ Cuts. A história prossegue na próxima sexta-feira (e depois no sábado) – como sempre, com “espírito de missão”.