Economia
Empresas antecipam férias e recorrem ao lay-off para enfrentar a pandemia
São cada vez mais as empresas da região obrigadas a parar a produção devido à Covid-19. Atlantis, Bordallo Pinheiro, Plastivaloire, Matcerâmica, Roca e Maxiplás são apenas alguns exemplos
As medidas adoptadas são diferentes, mas o objectivo é comum: enfrentar, com o mínimo de danos possível, os impactos da pandemia causada pelo novo coronavírus. Férias antecipadas e recurso ao lay-off, que voltou a sofrer alterações e é agora de mais fácil acesso, são as estratégias a que as empresas da região estão a recorrer.
A Molde, cerâmica de Caldas da Rainha, entrou em lay-off ontem. “A medida é parcial e cirúrgica, de modo a manter o número de colaboradores necessário para o cumprimento das encomendas existentes”, explica Rui Nunes.
O administrador adianta que foi preciso recorrer a este expediente devido à quebra de encomendas, porque a empresa trabalha essencialmente para exportação e em muitos dos seus mercados também encerraram temporariamente inúmeras empresas.
Esta é uma das 3600 empresas portuguesas que até terça-feira recorreram ao lay-off. A Segurança Social diz não ter por enquanto disponíveis dados distritais.
Também a Maxiplás, empresa de Pombal que trabalha para o sector automóvel e emprega cerca de 100 pessoas, entrou em lay-off ontem, até dia 15. “Fomos forçados a fechar, porque todos os nossos clientes fecharam”, explica Lopes da Silva, director de operações. “Não vale a pena estar a produzir se os clientes não vêm levantar os produtos”.
Também trabalha para a indústria automóvel e também está fechada. Até ao fecho da edição a Plastivaloire não respondeu ao JORNAL DE LEIRIA, mas há duas semanas Gustavo Soares, director comercial da empresa da Marinha Grande, já admitia que fechar era apenas uma questão de tempo, porque os seus clientes já estavam praticamente todos encerrados.
Na Batalha, a Matcerâmica também parou a produção, esta terça-feira, por duas semanas. A opção foi antecipar o gozo de férias (nove dias). “As pessoas perceberam e aceitaram. Esta solução não tem impactos no vencimento”, diz Marcelo Sousa. O gestor explica que a decisão de fechar se prendeu com a quebra nas encomendas e com o receio dos trabalhadores. “Querem estar em casa”.
Em Leiria, há já 15 dias que a Roca mandou grande parte dos trabalhadores para casa, com recurso ao banco de horas. Segundo foi possível apurar, a empresa fabricante de sanitários entrou ontem em lay-off e a produção vai estar parada durante um mês. Até ao fecho desta edição a empresanão respondeu às questões do JORNAL DE LEIRIA.
Ao fim do dia de ontem, enviou comunicado onde confirmava a suspensão temporária da produção, com recurso ao lay-off.
Ambas integradas no Grupo Visabeira, Vista Alegre Atlantis (400 trabalhadores em Alcobaça) e Bordallo Pinheiro (305 nas Caldas da Rainha) adoptaram medidas semelhantes. Tanto a fábrica produtora de cristal como a de cerâmica vão estar paradas de 23 de Março a 9 de Abril.
A administração entendeu, “em acordo com os trabalhadores, que a antecipação do gozo de férias constitui uma medida que alcança os vários objectivos definidos nesta situação de emergência: a preservação da saúde individual e da comunidade e a manutenção dos postos de trabalho”.
O recurso ao lay-off simplificado “foi uma das medidas possíveis e analisadas”, contudo, a administração considerou que, nas circunstâncias actuais, a antecipação do gozo de férias é a medida que “cumpre com um maior número de requisitos”, explanam os administradores da Vista Alegre e da Bordallo Pinheiro, Teodorico Pais e Paulo Pires, respectivamente.
Por um lado “proporciona ao trabalhador a possibilidade do isolamento social recomendado nesta fase, mantendo o seu rendimento e antecipando o subsídio de férias para o seu aforro, bem como possibilitará, após a estabilização da economia, a recuperação de clientes e da facturação, mantendo os postos de trabalho intactos”.
Como processo contínuo que é, a actividade produtiva da Crisal - Libbey Portugal, fabricante de cristalaria automática (copos e outros artigos do género), “tem limitações inerentes à cadeia de abastecimento e fornecimento, e tem de ser perfeitamente ajustada às necessidades do mercado, capacidade de armazenamento e recursos disponíveis”, frisa fonte da empresa.
Nesta fábrica da Marinha Grande, até aqui “a prioridade foi manter a actividade”, no “estreito cumprimento das orientações oficiais”, numa tentativa de garantir a continuidade do negócio e de minimizar “efeitos futuros de difícil recuperação”. Mas dada a “redução drástica na procura”, à data estão previstas paragens de duas das seis linhas de produção, explica a mesma fonte.
O recurso ao lay-off é o passo que se segue. “Com a forte redução nas vendas e previsível redução de produção, estamos a preparar este cenário por forma a permitir manter os empregos, o rendimento dos colaboradores e o futuro da empresa”. É que as encomendas, maioritariamente para exportação, “serão fortemente afectadas nos meses de Abril e Maio”, diz a mesma fonte, que adianta haver “perspectivas de uma recuperação gradual a partir de Junho”.
A Iber-Oleff, empresa de Pombal que produz componentes para a indústria automóvel, tem estado a “responder às efectivas necessidades que os clientes continuam a colocar”. Mas como se prevê que “entretanto estes possam parar”, estão a ser estudadas as medidas a tomar, “ainda não decididas”, aponta Joaquim Menezes.
Para já não se prevê recorrer ao lay-off, diz o administrador, adiantando que se está a procurar gerir esta “inusitada e imprevista situação com o maior cuidado e sensibilidade possíveis”. Antecipar o gozo de férias poderá ser uma opção – “teremos de equacionar as várias alternativas possíveis” -, tal como a dispensa de trabalhadores contratados e temporários: “é uma possível medida em cima da mesa, mas que vai depender das encomendas e solicitações dos nossos clientes”, diz o empresário.
Joaquim Menezes frisa que a pandemia vai trazer “elevadíssimos custos” e que há que estudar todas as soluções que possam ajudar a minimizar os impactos, “neste momento imprevisíveis”, nomeadamente ao nível dos investimentos que têm sido feitos em inovação e na qualificação dos recursos humanos, para responder aos “sofisticados projectos em carteira”.
Em várias outras grandes empresas da região contactadas pelo JORNAL DE LEIRIA as medidas a adoptar estão ainda em cima da mesa, pelo que os seus responsáveis se escusaram a falar do assunto.
Em comunicado, a Direcção da Organização Regional de Leiria do PCP denuncia várias situações de atropelo à lei na região, como a “imposição de férias de forma autoritária, em algumas situações com recurso à ameaça de despedimento”, e o “recurso indiscriminado e arbitrário ao lay-off e a ameaça da sua utilização para pressionar trabalhadores a aceitarem férias”.