Sociedade

Escolas da região escolhem manter os manuais em papel em detrimento do digital

6 set 2025 09:00

As escolas a partir do 2.º ciclo podem optar pelos manuais digitais, mas a esmagadora maioria mantém o papel

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Escolas consideram que as vantagens dos manuais digitais não ultrapassam os benefícios do papel na aprendizagem
Ricardo Graça/Arquivo
Inês Gonçalves Mendes

As escolas da região de Leiria vão manter os manuais escolares em papel, em detrimento dos livros digitais, por considerarem que os benefiícios não ultrapassam as vantagens dos materiais físicos e por não haver ainda outros estudos e experiências que fundamentem, com certeza, a necessidade da troca.

Desde 2020 que o Governo analisa esta opção, com o lançamento de um projecto-piloto que testou a utilização dos manuais digitais em contexto de sala de aula. Um estudo da Direcção-Geral de Estatísticas da Educação e Ciência (DGEEC) concluiu que “não existem efeitos significativos nos resultados dos alunos” e, por isso, decidiu-se manter a possibilidade de as escolas escolherem o modelo que considerarem mais adequado.

Contudo, há regras: os manuais digitais não se aplicam ao 1.º ciclo, por ser uma “fase crítica” na aprendizagem da leitura e da escrita e porque o efeito do uso prolongado de ecrãs em crianças ainda está a ser estudado e, a partir do 2.º ciclo, as escolas que optarem pelos manuais digitais têm de justificar a sua decisão ao Ministério da Educação.

Após um primeiro ano de experiência, o Governo permite a continuidade nos anos seguintes, caso exista uma adequação pedagógica clara, a participação na monitorização, o envolvimento de encarregados de educação e de alunos e um plano de formação de professores e alunos, entre outras condições.

Entre as várias escolas da região, houve lugares onde esta troca nem sequer foi discutida. No caso do Agrupamento de Escolas de Porto de Mós, Pedro Vala explica que o conselho pedagógico analisou o tema e decidiu manter o papel. “Não é consensual que este seja o formato mais adequado”, considerou o director, acrescentando que o recurso ao digital “ainda não está bem consolidado ao nível da aprendizagem”.

Também devido às obras de requalificação na Escola Secundária de Porto de Mós, Pedro Vala considerou que este não é o momento oportuno para avançar para a troca. Além disso, há toda uma organização logística que, em alguns casos, pode não estar garantida. “É necessário que os alunos tenham condições técnicas e isso ainda não se verifica. Há alunos que ainda não têm computador”, observa.

Por sua vez, ecoam em Portugal as notícias dos países do Norte da Europa, que aderiram ao ensino digital, e estão a recuar na decisão. Em 2023, a Associated Press noticiava este passo atrás, dando o exemplo da Suécia, onde os professores voltaram a dar mais tempo à prática da caligrafia e à leitura de manuais em papel, em detrimento do tempo nos tablets ou da pesquisa online independente.

Também a directora do Agrupamento de Escolas de Ansião, Ermelinda Mendes, considerou essencial um estudo mais aprofundado sobre os prós e contras desta iniciativa. “Entendemos que era a altura propícia ao desenvolvimento do projecto. Seria necessário pensarmos no projecto, analisarmos e investigarmos, e ainda não procedemos ao estudo e reflexão necessária”, justificou.

No entanto, há métodos de ensino que dão espaço às plataformas e tecnologias digitais.

Digitais há mais de cinco anos

A Escola Tecnológica e Profissional de Sicó (ETP Sicó) é um exemplo da região a adoptar manuais digitais, há mais de cinco anos. Segundo Inês Fernandes, directora pedagógica da educação e formação inicial, o método digital apresenta mais vantagens que desvantagens, uma vez que o método de ensino da escola aponta para um trabalho prático e autónomo.

“Os manuais digitais estão disponíveis na nossa plataforma e acessíveis à distância. Os alunos descarregam para os dispositivos electrónicos para acederem aos mesmos em qualquer lugar e, depois de descarregados, não precisam de internet para aceder”, explica.

Enquanto nas escolas públicas coloca-se o problema da acessibilidade a computadores ou tablets, uma vez que ainda há alunos que não possuem estes materiais, a ETP Sicó consegue resolver facilmente esta dificuldade. “Conseguimos colmatar com alguns equipamentos que podemos facultar sob requisição para que os alunos façam os seus trabalhos”, aponta, ao adiantar que “os alunos sabem a quem se dirigir e não sentem nenhuma timidez a dizer que precisam de ajuda ou de algum equipamento.”

Mesmo com os manuais digitais, quando existem testes – que não são o único método de avaliação – são realizados da forma tradicional. Ao valorizar as vantagens, Inês Fernandes admite alguns “desafios”, entre os quais a maior exposição a ecrãs e dispositivos electrónicos. Contudo, a componente prática ministrada nos cursos desta instituição acaba por equilibrar as aprendizagens.

A também directora do polo de Penela acrescenta que os manuais digitais representam um esforço acrescido para os professores, uma vez que são eles que, mediante a alteração de conteúdos, preparam estes materiais.

No arranque de mais um ano lectivo, os manuais digitais continuam a ser a escolha da ETP Sicó.