Sociedade
Fogo no parque natural de Porto de Mós está em fase de resolução e consumiu 1000 hectares
Durante os dois dias de incêndio registaram-se seis feridos ligeiros, que foram assistidos no local
O incêndio que deflagrou na madrugada de domingo no Parque Natural das Serras de Aire e Candeeiros, em Porto de Mós, está em fase de resolução desde aas 19:50 desta segunda-feira.
“Este é um mérito de todos os operacionais, de todos quantos aqui estiveram, sapadores florestais, GNR… todos. Tiveram um esforço heróico durante estes dois dias. Foi de um desgaste físico notável. Foi muito exigente o combate neste terreno. Tenho de frisar o esforço que todos fizeram para chegarmos aqui, cerca de 36 horas depois, e vermos que o incêndio está resolvido”, afirmou Carlos Guerra, comandante distrital de Leiria, em conferência de imprensa no posto de comando.
Apesar de sublinhar que os meios aéreos “só por si não apagam incêndios”, Carlos Guerra admitiu que, nesta situação, onde os acessos eram muito difíceis “foram uma ajuda mais preciosa”.
“Se o meio aéreo é uma ajuda fundamental diria até nuclear para os operacionais que estão no terreno, aqui essa ajuda ainda foi mais forte. Por não haver uma progressão no terreno permitiu que o incêndio ficasse ali a moer devagarinho, para depois o combate apeado ou com ferramentas de sapadores fosse mais fácil”, sublinhou.
Segundo explicou, a missão dos meios aéreos foi também, nas “zonas de mais difícil acesso permitir que o combustível quebrasse alguma da sua força para que os operacionais pudessem avançar”.
Carlos Guerra lamentou que na zona onde o fogo progrediu não houvesse caminhos. “Não me quero intrometer na gestão que o parque tem de fazer. Compreendo as questões da parte do parque natural, e compreendo as questões que o Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas tem de fazer sobre a gestão do seu território. Mas se me perguntam se gostaria de ter mais caminhos, eu diria que sim”, admitiu, acrescentando que a autarquia e a junta de freguesia tem procurado que se criem mais acessos no PNSAC.
Durante os dois dias de incêndio activo foram registados seis feridos ligeiros, assistidos no local: cinco operacionais e um civil, que não necessitaram de ser encaminhados para uma unidade hospitalar.
Segundo explicou o oficial de ligação do INEM para o distrito de Leiria, o enfermeiro Bruno Rito, as situações estiveram relacionadas com “cansaço, inalação de fumos e alguns pequenos traumatismos mas nada de grave”.
No local estavam esta manhã 139 operacionais, apoidos por 42 veículos para garantir que não há reacendimentos.
Presidente do Município
Arderam 1500 hectares em dois meses
O incêndio no Parque Natural das Serras de Aire e Candeeiros consumiu cerca de 1000 hectares, a que se juntam os 520 hectares consumidos pelas chamas num incêndio de há cerca um mês e meio na mesma zona.
“De São Bento à Mendiga ardeu o planalto todo. Para quem está a promover e a fazer um trabalho de conservação e preservação junto da comunidade para resultar promoção e valor acrescentado, isto é uma tragédia. Estamos muito tristes e revoltados”, afirmou Jorge Vala, presidente do Município de Porto de Mós.
Segundo Jorge Vala, a primeira chamada para o incêndio no Parque Natural das Serras de Aire e Candeeiros foi para a Mendiga, cerca das 1:30 horas.
“Até às 2 horas surgiram mais quatro focos de incêndio para norte. O último foi no Codaçal, onde é a exploração de pedreiras. Esse ganhou intensidade, até porque os bombeiros foram confundidos, indo para a Mendiga, o que atrasou a sua chegada”, contou.
Jorge Vala sublinhou ainda que na madrugada de domingo se verificava “vento, níveis de humidade abaixo de 10% e, sobretudo, muito calor”.
“Depois [fogo] nasceu em zonas de muita dificuldade de acesso. Não existem acessos, nem nunca existirão. Estamos a falar de zonas de penhascos, zonas muito complicadas, onde espontaneamente nasce uma flora rica, que é marca identitária deste território. A conjugação de tudo isto leva a que ganhe dimensão”, referiu ainda.
O presidente afirmou ainda que os meios aéreos só chegaram seis horas depois, já depois das 08:00. “Até lá os operacionais não conseguiram aceder ao fogo, nem levar água. Seis horas é muito tempo”, lamentou.
“Não tenho dúvidas que isto foi mão criminosa com a intenção de provocar um grande incêndio. Fê-lo há um mês e meio e agora voltou a acontecer. Esta situação é incontrolável do ponto de vista da gestão do território. Por muito que limpemos, não conseguimos evitar isto”, acrescentou.