Sociedade
Governo prefere esperar mais uma Primavera pela regeneração natural do Pinhal de Leiria
Ministro do Ambiente volta a empurrar medidas mais para a frente, evitando tomar já decisões
O ministro do Ambiente, João Matos Fernandes, voltou a defender ontem durante uma audição regimental na Comissão de Agricultura e Mar, que se deve "esperar mais esta Primavera pela regeneração natural do Pinhal de Leiria".
O governante disse ainda que nessa faixa de mata litoral que ardeu nos incêndios de 2017, já estão executadas rearborizações em 1.200 hectares.
Segundo a Agência Lusa, Matos Fernandes afirmou que “vale mesmo a pena esperar mais esta Primavera para perceber até onde é que pode ir a regeneração natural”.
O ministro convidou quem defende a urgência em rearborizar o Pinhal de Leiria "a visitar o espaço florestal", adiantando que já teve a oportunidade de o fazer e ver “ao lado de pinheiros já com dois metros de altura, outros com 20 centímetros de altura, ou seja, que estavam agora a rebentar”.
Leia aqui a entrevista do ministro Matos Fernandes ao JORNAL DE LEIRIA
O governante respondeu assim ao deputado do PCP João Dias, que disse que “é um crime político insuportável o que se passa relativamente ao Pinhal de Leiria”, criticando a opção do Governo de esperar pela regeneração natural.
Além da área já rearborizada, o Governo tem uma intervenção prevista em “mais 2.200 hectares”, no período de 2022 a 2024, segundo adiantou o ministro.
“Queremos mesmo aproveitar ao máximo a regeneração natural”, reforçou. Concordando que o pinheiro demora muito tempo a crescer, o governante ressalvou que, devido à tragédia dos incêndios de 2017, “passar-se-ão muitos anos” até que se possa voltar a ter a silhueta do Pinhal de Leiria, também conhecido por Pinhal do Rei.
Questionado pelo deputado do PSD João Marques sobre a poluição da bacia hidrográfica do Lis, em Leiria, o ministro do Ambiente afirmou que os responsáveis são os suinicultores que “não têm respeito nenhum por aquilo que é o cuidar das condições ambientais que ali estão”.
“Não faz sentido construirmos uma estação que não temos a mais pálida garantia de um dia vir a ser utilizada”, avançou o governante, lembrando que existe a Estação de Tratamento de Águas Residuais (ETAR) de Coimbrão, em Leiria, que é pouco utilizada, apesar de ter capacidade para tal.
“Se temos uma com capacidade para poder fazer que nada faz, fazer uma ao lado, ainda com maior capacidade, a verdade de vir a fazer alguma coisa é praticamente nula”, sustentou João Matos Fernandes.
Em Janeiro deste ano, deputados do PSD apresentaram um projecto de resolução a recomendar ao Governo a construção da estação de tratamento de efluentes suinícolas (ETES) para a despoluição da bacia do rio Lis.
Os sociais-democratas defendem que o executivo deve criar "uma solução eficaz e exequível para a recolha, tratamento e valorização energética e agrícolas dos efluentes suinícolas, contribuindo para a urgente despoluição da bacia hidrográfica do Lis, através da construção da estação de tratamento de efluentes suinícolas na região do Lis".
Em Fevereiro deste ano, o Ministério Público (MP) de Leiria anunciou que foi deduzida a acusação contra uma pecuária e o seu representante legal pelo crime de poluição.
Numa nota publicada na sua página, o MP informou que o Departamento de Investigação e Acção Penal de Leiria deduziu acusação contra uma sociedade e seu representante legal, pela prática do crime de poluição e de três contra-ordenações, duas das quais muito graves.
Os factos terão ocorrido no dia 4 de Julho de 2019, numa exploração agropecuária de suinicultura, na zona do concelho de Leiria, pertencente à sociedade arguida.
Numa resposta enviada à Agência Lusa em Janeiro, a GNR refere que em 2020 "registou 14 denúncias que originaram cinco processos-crime por descarga de efluente para a linha de água e nove processos de contraordenação por descarga de efluente pecuário para o solo", no distrito de Leiria.