Opinião
Já é quase, quase, Natal
Para os quais os pais têm de desembolsar uma média de 250 euros por filho para gáudio da editoras que, afinal, dominam o sistema educativo
Acabou o Verão. Oficialmente. Oficiosamente ainda há quem mergulhe nas águas frias do Atlântico, ou temperadas do [quase] Mediterrâneo, gozando o prazer de ter uma praia [quase] toda só para si. Mas já chegou o Outono. As folhas já começaram a cair nas alamedas, espalhando pó e provocando ataques de asma e as senhores já começaram a vestir o casaquinho de malha, quando não já o casaco de lã, e a usar mantinha em frente à televisão, enquanto olham para o Eixo do Mal ou para a Operação Triunfo.
Depois de se ter gasto o que foi possível numas férias possíveis [quem as teve] para celebrar um ano de trabalho ou de estudo, e gozar o sol que, por enquanto, não falta neste país mas que já [quase] paga imposto, eis que regressam as aulas, num sistema de educação tendencialmente gratuito, mas para os quais os pais têm de desembolsar uma média de 250 euros por filho para gáudio da editoras que, afinal, dominam o sistema educativo. Há câmaras que oferecem manuais. Escolas que também. O Estado ajuda algumas pessoas. Mas não chega. É um absurdo de preço. Como absurdo é a quantidade de diferentes manuais para os mesmos anos. Liberdade de escolha, mas não é preciso ir ao ridículo. Como ridícula é a quantidade de manuais que um estudante do 7.º ano tem de transportar por dia, para a escola. Pobres colunas.
Depois dos manuais escolares, a rentrée literária e o prazer voyeur de quem andou à procura do Livro Proibido do Arquitecto que nunca exerceu. Da mesma forma que abrandamos à passagem por um acidente pelo prazer mórbido de olhar a tragédia alheia, ou olhamos com ar sabido e muito competente as obras que desconhecemos, também mantemos um certo prazer em descobrir as misérias dos outros dando graças por não serem as nossas. Um sucesso editorial, obviamente.
*Cineasta
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