Saúde

Médicos de família podem evitar urgências com hospitalização em casa

25 ago 2024 08:30

Este é um projecto que surgiu no âmbito da bolsa capital humano em saúde, criada pela Associação Portuguesa de Administradores Hospitalares e que a equipa de Leiria venceu

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A Unidade de Hospitalização Domiciliária de Leiria dá resposta a utentes que residam a um máximo de 30 quilómetros do hospital
Ricardo Graça

Os médicos de família da Unidade Local de Saúde da Região de Leiria já podem referenciar directamente os utentes para a Unidade de Hospitalização Domiciliária (UHD) sem ter de os enviar primeiro para o serviço de urgência.

O projecto que está a ser desenvolvido em colaboração estreita entre os dois serviços contribui “para um alívio da carga do serviço de urgência, do internamento hospitalar e para uma maior humanização dos cuidados prestados em saúde”, assegura André Rainho Dias médico de Medicina Geral e Familiar na Unidade de Saúde Familiar (USF) Vitrius, na Marinha Grande.

Segundo o clínico, até agora não era possível aos médicos de família referenciarem os utentes para UHD. Quando entendiam ser necessário, tinham de enviar o doente para o serviço de urgência. “Imagine-se o que é ter um doente já fragilizado e ter de lhe explicar que vai ter de ir para uma urgência, onde, se calhar, estão 100 pessoas para ser observadas e onde vai estar 24 horas à espera até ser chamado, porque, muitas vezes, não são situações emergentes”, explica André Rainho Dias.

Apesar de não serem casos urgentes, os doentes podem necessitar de um antibiótico hospitalar, como sucede em algumas infecções urinárias, exemplifica, ao referir que um doente com estas características será triado com pulseira verde. Agora, os médicos da ULS de Leiria podem fazer a referenciação como se de um pedido para uma consulta de especialidade se tratasse.

“Poder fazer uma referenciação directa à UHD é, sem dúvida, uma grande mais-valia. Se não for no próprio dia, no dia seguinte o utente terá uma avaliação”, salienta o médico.

Estas referenciações podem também ser realizadas para cuidados paliativos ou acompanhamento de doentes oncológicos. “Faz diferença a pessoa morrer em casa junto da família ou ter morrer no hospital. Este contacto muito directo permite-nos fugir da urgência. Isto é humanizar a medicina. Enviar uma doente que tem dois dias de vida para a urgência, estaria a desumanizar aquilo que é a prática de cuidados médicos.”

Amália Pereira, directora da UHD, revela que, no ano passado, 59,41% dos doentes que internavam no serviço provinham da Urgência. “Sendo uma ULS, não fazia sentido estarmos presos à referenciação exclusiva hospitalar. Em 2023, começamos com o projecto-piloto na USF Vitrius e em Fátima.”

Este é um projecto que surgiu no âmbito da bolsa capital humano em saúde, criada pela Associação Portuguesa de Administradores Hospitalares e que a equipa de Leiria venceu. “O grande objectivo é ajudar as ULS e as organizações de saúde a repensarem a forma como prestam cuidados e como fazem a gestão das equipas e de pessoas em saúde.

A Nobox é aqui a empresa que presta toda a consultoria para estes projectos”, afirma Diogo Fernandes Silva, cofundador da Nobox e médico especialista em Saúde Pública.

A Nobox ajudou a implementar o projecto em termos de sistema informático e de procedimentos, a ultrapassar as barreiras que foram surgindo e a informar médicos e enfermeiros sobre os critérios clínicos para referenciar os doentes.

 

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