Economia

Megatech e Bourbon com quebras de produção na ordem dos 50%

1 abr 2022 12:00

Empresas de componentes para automóveis da Marinha Grande com dificuldades no acesso a semi-condutores

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Megatech teve de fechar na semana em que o conflito na Ucrânia começou
Jornal de Leiria/Arquivo
Raquel de Sousa Silva

A dificuldade de obtenção de semi-condutores, que não é de agora mas que a guerra na Ucrânia “agravou”, a incerteza nos mercados, que tem levado à paragem de alguns fabricantes de automóveis, e a greve dos camionistas em Espanha estão a afectar a actividade da Megatech, que regista uma quebra de produção superior a 30%.

A empresa da Marinha Grande produz peças em plástico para interiores e exteriores de veículos e assim que o conflito na Ucrânia deflagrou sentiu logo impactos. “

Em Fevereiro, quando a guerra começou, a fábrica esteve uma semana fechada, porque os nossos clientes pararam”, conta ao JORNAL DE LEIRIA Fernando Gaspar.

Estando “directamente ligada” às linhas de produção de empresas como VW, Renault e Stellantis (ex-PSA), “se elas param, nós paramos”, explica o director da fábrica.

Fernando Gaspar diz que naquela semana de Fevereiro os 100 trabalhadores estiveram de férias e que, de então para cá, devido à diminuição da actividade, todos têm sofrido reduções de horário.

“Se as paragens e a quebra de produção se prolongarem, está em causa a manutenção dos postos de trabalho”, alerta. Até porque, já este ano, em resultado desta redução na actividade, o volume de negócios deverá cair pelo menos 30%.

Além dos chips, a fábrica da Marinha Grande não tem sentido falta de outras matérias-primas, embora o acesso às mesmas seja agora mais difícil, diz o director.

“Temos dificuldade em receber peças”, afirma Fernando Gaspar, que aponta também um aumento dos custos das matérias-primas entre 6% a 8%.

Na Bourbon, as quebras de produção registam-se há mais de um mês e rondam agora os 50%. Gustavo Soares, director comercial da empresa da Marinha Grande, diz que tal se deve sobretudo à falta de chips, que já se vinha sentindo e que, admite, a guerra na Ucrânia pode ter agravado.

Os principais clientes da Bourbon têm vindo a fazer algumas paragens na produção e muitos estão agora a fabricar apenas veículos eléctricos, situação que o gestor admite possa estar relacionada com a falta de alumínio, material necessário para os motores a combustão.

Sem “problemas relevantes de abastecimento até agora”, a Novares Portugal sentiu como “único impacto negativo” o cancelamento de algumas encomendas por parte de um cliente com fábricas na Ucrânia.

Fonte da empresa de componentes para automóveis de Leiria diz, contudo, que já há “sinais de retoma” nas encomendas, “devido à deslocalização de unidades fabris deste cliente na Ucrânia para outro país na Europa”.

“Pontualmente, tivemos alguma redução nos pedidos de outros clientes, em resultados das quebras nas cadeias de fornecimento”, adianta a empresa, que afirma que não há secções paradas nem pessoas em lay-off.

Até agora, a guerra na Ucrânia não teve “impactos relevantes” na Iberomoldes, mas Joaquim Menezes, administrador do grupo da Marinha Grande, que tem uma fábrica de componentes em Pombal, admite que, “obviamente, a situação terá relevância indirecta nas actividades”.

“Contudo, esperemos que esta guerra estúpida seja resolvida rapidamente, pois a situação é má demais”.

O empresário adianta que “os impactos dos preços, principalmente das matérias-primas e energia, já se faziam sentir antes da guerra, e agora tendem a agravar-se ainda mais”.

Por outro lado, e mais do que o conflito, “o impacto da Covid e as tensões geo-políticas a aumentar têm tido mais efeito impactante na incerteza da logística e na incerteza dos mercados”.

“Se os fabricantes não conseguirem escoar os veículos em produção, não avançarão com novos modelos e, nesse cenário, o sector dos moldes vai sofrer por inerência”, reconhece Manuel Oliveira, que sublinha que a extensão dos impactos “dependerá do tempo que durar o conflito”.

Para já, as empresas sentem mais dificuldade de acesso às matérias-primas, cujos preços aumentaram, situação que prevê que se agrave nos próximos tempos.

“O aço é importado sobretudo da Alemanha, Áustria e Suécia, mas há matérias-primas necessárias pra a sua produção que eram obtidas na Ucrânia e na Rússia”, exemplifica o secretário-geral da Cefamol.