Sociedade
Nos bastidores, associação luta para preservar o património das encostas da Magueixa
A Associação de Desenvolvimento Encostas da Magueixa procura promover o património material e imaterial da região

Sabia que um presépio construído no Reguengo do Fétal foi exposto em Boulevard de la Chapelle, em França, e que até mereceu um filme? Ou que um antigo pároco local foi detentor de um espólio de moedas e achados pré-históricos, guardados e inventariados no Seminário de Leiria? Há curiosidades e histórias que contam a formação de uma comunidade, ao longo de vários anos, e é pela necessidade de se conhecer mais sobre este património que o grupo de pessoas ligadas ao Reguengo do Fétal criou a Associação de Desenvolvimento Encostas da Magueixa (ADEM).
“Começámos a olhar para a aldeia, para o património que a comunidade tem e percebemos que existe uma enorme riqueza no património material e imaterial que tinha de ser preservada”, explica Pedro Monteiro, um dos mentores desta associação. A associação olhou para o território e perguntou: “o que nos define?”.
“Em termos de dinâmica, o que a associação se propõe a fazer é pegar nos vários patrimónios, pegar sobretudo naquilo que já existe no terreno, e dizer: temos de trabalhar com todos em prol da comunidade”, afirma.
A comunidade é um dos pilares fundamentais para o funcionamento da ADEM, uma vez que é também a memória viva dos habitantes que permite conhecer histórias, fazer ligações e identificar o património.
Assim, é nos bastidores que esta associação actua, entre contactos com pessoas e entidades que, de alguma forma, podem alavancar e apoiar a preservação do espólio desta freguesia.
Pedro Monteiro dá o exemplo do painel de azulejos da Pan Am, que já é parte integrante da paisagem para quem vive perto, e surpreendente para quem vê pela primeira vez.
Constituido por cerca de quatro mil azulejos agregados a uma estrutura de cimento de 92 metros quadrados, está na encosta junto à EN 365, estrada que liga a Batalha a Fátima.
É o exemplo da utilização de azulejos para fins publicitários e tem resistido ao tempo, apesar de apresentar já marcas de degradação. Segundo a Património Cultural, IP, este painel está “em vias de classificação”... desde 2017.
Procedeu-se mesmo à abertura formal do procedimento de classificação do painel, que não teve qualquer desenvolvimento.
A Pan Am declarou falência em 1991, contudo, este ano voltou a rasgar os céus, através de uma rota privada de luxo que faz parte de uma nova estratégia de relançamento da marca, e que teve passagem por Lisboa.
Com este recente reactivamento, a ADEM afirma que está em “posição privilegiada” para contactar novamente a marca e pugnar pela preservação deste painel, que recorda os anos áureos de aviação desta companhia norte-americana.
A ADEM trabalha “com as oportunidades que vão surgindo” e Pedro Monteiro também aborda o tradicional presépio do Reguengo do Fétal, que viajou até França.
“Nos anos 70, a comunidade portuguesa em Paris pagou a deslocação do presépio até lá para estar exposto numa igreja no Boulevard de la Chapelle”, conta, ao acrescentar que esta viagem motivou mesmo a aquisição do presépio e a ida de habitantes e do rancho folclórico até ao local.
Este intercâmbio motivou a criação de um filme, realizado por Manuel Madeira, com o nome “O Presépio Português”. A ADEM pretende encontrar este documentário, que foi exibido em 2011 num ciclo de cinema documental em Melgaço.
E o padre José Oliveira, que recolheu um importante espólio de moedas e achados pré-históricos? Pedro Monteiro refere que este acervo está inventariado e preservado no Seminário de Leiria – “felizmente” – mas considera que “se não é divulgado, acaba por ser esquecido”, defendendo a ida deste material até ao Reguengo do Fétal.
Outro dos projectos em mente é a criação de um itinerário literário que divulge as obras de autores que mencionaram o Reguengo do Fétal nas suas obras.
Adelino Mendes, Mapone ou Alexandre Herculano são alguns exemplos de autores que escreveram sobre esta localidade e, na opinião de Pedro Monteiro, há a necessidade de criar um roteiro para preservar estes testemunhos.
“Queremos dar passos pequenos, mas seguros, de forma a que as coisas apareçam e sejam compreendidas”, afirma o responsável. A associação ajudou a unir a comunidade através de “soluções novas para questões antigas” e, assim, recuperar e promover os costumes da Magueixa.