Opinião
O canhão da Nazaré é o novo Ronaldo
A Nazaré é o sítio onde mais querem ir num futuro próximo.
A semana passada estive no Hawaii. Não me querendo armar muito ao pingarelho - sendo que esta coisa de um gajo ir para sítios onde estão 30 graus em pleno mês de Janeiro é um inevitável gerador de ódios viscerais -, houve uma coisa durante a viagem que me deixou verdadeiramente orgulhoso e, ao mesmo tempo, me fez perceber que, de certa forma, tinha subvalorizado a sua real importância: as ondas da Nazaré.
É óbvio que, como todos, percebi a dimensão mediática que a região conquistou nos últimos anos à conta do canhão da Nazaré, mas, ao mesmo tempo, pessoalmente não lhe consegui atribuir o devido relevo num contexto internacional, quando comparado com sítios que há décadas assentaram a sua economia na indústria do surf e fizeram disso uma cultura tão forte que se apropriou do imaginário que todos nós temos na cabeça quando pensamos em ondas, pranchas e afins.
Ora, quando estás em pleno areal de Pipeline, a ver uma competição nas ondas mais conhecidas do Planeta a acontecer mesmo ali à tua frente e, de repente, alguém te pergunta de onde és, respondes Portugal e a reacção é “a sério? Quero muito, muito ir à Nazaré”, assim sem pronúncias esquisitas e com os olhos a brilharem, percebes que não estamos a falar de uma moda passageira, ou de um momento de mediatismo fugaz.
É mesmo a sério. E não foi uma, nem duas, nem três, nem quatro vezes. Não foi só em Pipeline, foi em Waimea, foi em Honolulu, foi em contextos de surf como em conversas em bares manhosos com gente local, que nem sequer tem no surf o seu modo de vida. A Nazaré é o sítio onde mais querem ir num futuro próximo.
*Editor-in-chief, VICE Portugal