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Os primeiros maestros formados no Politécnico de Leiria já fizeram mais de metade do caminho
Curso no Politécnico de Leiria atraiu alunos do Norte ao Algarve e só tem concorrência em Lisboa e Aveiro
A pós-graduação em Direcção de Bandas e Ensembles de Sopros coloca Leiria num patamar onde estão apenas mais duas cidades portuguesas. “Só existe o mestrado em Aveiro e a licenciatura em Lisboa”, assinala Alberto Roque, coordenador do curso a funcionar pela primeira vez na Escola Superior de Educação e Ciências Sociais (ESECS) do Politécnico de Leiria.
Com 16 alunos, do Norte ao Algarve, a pós-graduação revela-se “muito forte” na correspondência entre a teoria e a prática, considera Alberto Roque. “De 15 em 15 dias, eles estão a dirigir”. Os ensaios com as filarmónicas da região permitem aplicar os conhecimentos adquiridos. “O que se pretende é que eles cheguem lá, agarrem na partitura e saibam resolver os problemas”.
O peso da componente prática é o argumento que Nuno Cachetas Pinto apresenta para se deslocar desde Braga, onde reside. “Era o que eu procurava”, comenta. “É a minha realidade”. O clarinetista e primeiro sargento na Banda Sinfónica do Exército chega à ESECS depois de assumir a direcção artística da Banda Musical de Parafita, no concelho de Montalegre. “Senti que devia investir na formação”.
Recentemente, decorreu o segundo seminário integrado no curso de Direcção de Bandas e Ensembles de Sopros do Politécnico de Leiria, com a maestrina Andreja Šolar, proveniente da Eslovénia. Anteriormente, os alunos, entre eles uma única mulher, já tinham trabalhado com o maestro suíço Felix Hauswirth. Oportunidade para “novas abordagens, novas experiências, novas aprendizagens”, refere Nuno Cachetas Pinto, que vê “uma evolução muito grande” desde o arranque da pós-graduação, em Outubro.
Os dois seminários, cada um com uma semana, contribuem para diferenciar a ESECS, acredita Alberto Roque, que destaca os dias intensivos com maestros internacionais e músicos profissionais – “um luxo” – incluídos no valor da propina (1.500 euros). “Em Inglaterra, é dez vezes mais”.
Durante o tempo em Leiria, Andreja Šolar preocupou-se sobretudo com técnicas que possibilitam descobrir as posições mais adequadas para cada pessoa. “Se algo não é bom para o nosso corpo, não podemos expressar-nos, não é natural”, explica a maestrina, que dirigiu em concerto o ensemble de sopros da Associação de Filarmónicas do Concelho de Leiria (AFCL).
“A expressão é muito importante, mas, se as nossas mãos estão a fazer algo que não é muito bom para a orquestra, não ajuda”, sublinha. “Primeiro, a técnica; depois, podemos acrescentar algum tipo de expressão musical”. E conclui: “A primeira regra é não perturbar a orquestra. Estamos lá para os músicos”.
Alberto Roque concorda. A técnica, além de fundamental, é universal. “Um bom maestro é aquele que se for dirigir à China ou aos Estados Unidos ou à América Latina não tem problema em comunicar com os músicos que estão à frente dele porque a técnica de base, a linguagem corporal, é comum”, afirma. “Ter as ideias claras e saber como comunicá-las”, cooperando. “Tem de haver uma liderança, mas essa liderança, quando é demasiado autoritária, não produz grandes efeitos, porque, do outro lado, também há individualidades”.
No próximo ano lectivo, é certo que voltam a abrir vagas para a pós-graduação em Direcção de Bandas e Ensembles de Sopros da ESECS.
A primeira turma conclui o curso em concerto, no próximo dia 13 de Junho, no Teatro José Lúcio da Silva, com a Banda Sinfónica da AFCL.